quinta-feira, janeiro 22, 2009

O pioneirismo da imprensa liberal e republicana

História Local : - Sem dúvida que a Imprensa Elvense afirmou-se desde a primeira hora como grande defensora dos ideais liberais, através dos seus editores e redactores, que, em muitos casos e sobretudo na década de oitenta, representavam interesses partidários oriundos de Lisboa. É certo que os valores liberais oriundos da Revolução Francesa, assentes nos princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, já tinham chegado no princípio do século à cidade de Elvas, através da loja maçónica da "Liberalidade", que tinha entre os seus "associados" as pessoas mais notáveis da Cidade, o bispo de Ataíde, o General de Stubbs, o Visconde de Vila Nova de Gaia, etc. Por outro lado, o jornal mais tarde republicano, a Nação, publicado em Lisboa e distribuído numa das dependências da praça forte de Elvas, era conhecido por um número restrito de famílias Elvenses mais influentes na vida civil e militar, pondo em evidência ainda o carácter restrito e limitado da difusão e influência dos ideais liberais na vida civil da urbe elvense. Mas a imprensa periódica de Elvense, embora já consolidada durante o 1º Rotativismo, só conhece de facto um notável desenvolvimento, como imprensa de opinião, durante o 2º Rotativismo. Considerando que na primeira fase deste sistema político 1861-1878, apenas um jornal é identificado com a luta política: trata-se da Democracia Pacífica de 1866-1869, que mereceu as mais vivas referências de Eça de Queirós que, ao longo do ano de 1867, na revista da Imprensa do Distrito de Évora, destaca sucessivamente em cerca de onze edições este jornal Elvense que não só se revelava crítico da política de centralização da classe política de Lisboa, como denunciava e censurava a mesma, propondo novos dirigentes e aconselhando o próprio monarca a dar esse passo. Em termos ideológicos e apesar do carácter socializante que a Democracia Pacífica parece denotar em alguns artigos, parece-nos que não passou disso mesmo por três razões: A primeira, pelo facto do ideário inicial deste órgão de informação defender incialmente a implantação de um novo regime político, daí que muitas ideias proclamadas sejam de cariz republicano ou quando muito apresentarem um carácter socializante. Porém, o Dr. João Francisco Dubraz nunca se afirmou como tal, sendo conotado como um democrata liberal. A segunda, pela análise dos seus três anos de publicação que acentuam a sua prática liberal, apesar dos temas de análise crítica serem diferentes a partir de 1867, mas se a orientação do jornal difere da prática seguida desde a sua fundação, isso deve-se como já afirmámos devido à mudançs de objecto de crítica. Já não é a monarquia ou o poder Central, mas a classe política, corrupta e centralizadora, que impede o desenvolvimento do poder local e nestas circunstâncias encontramos por vezes artigos de apoio à causa real. A terceira justifica-se pela própria definição política do jornal, que na sua edição nº 205 afirma-se politicamente como Liberal Democrático, o que acontece pela primeira vez num jornal elvense, apesar dos artigos de opinião terem tradição e conotação política no jornalismo oitocentista. Mas como defendemos inicialmente, com o segundo rotativismo, a imprensa Elvense "ganha" um carácter ou cunho partidário que se revela nos periódicos locais. Assim, O Elvense, na sua longa vida 1880-1921, não só se afirma como um jornal Liberal independente, como mais tarde e seguindo sempre a linha liberalizante se afirma Republicano e Progressista, o mesmo acontecendo com o Correio Elvense (1889-1949) que acentua a sua tendência progressista de forma radical pelo menos até ao princípio do século. Aliás, a tendência para o radicalismo mantêm-se na Sentinela da Fronteira, onde este jornal independente, liberal e radical, apenas pretende demarcar-se do Elvense, através do Visconde de Alcântara, um monárquico muito considerado e apoiado pela classe política elvense em meados do séc.XIX pela sua influência na capital Portuguesa e nos meios políticos e parlamentares. Assim, as diferenças entre a Sentinela e o Elvense justificavam-se apenas no âmbito de acção desenvolvida por ambos enquanto claros apoiantes do Partido Progressista. Por outro lado, não podemos ignorar a luta política a nível local no interior do Partido Progressista, entre o Presidente da Câmara, Eusébio Nunes da Silva, e o Dr. João Henriques Tierno, duas figuras que não podem ser ignoradas na História Contemporânea de Elvas. E é neste sinuoso contexto que se salientam duas figuras que se revelaram daversários no campo político e companheiros na luta pelos interesses da sua Terra. Mas a violência e a propaganda republicana através da palavra torna-se evidente e definitiva nos periódicos de Elvas no último quartel de oitocentos, mas especialmente no Jornal de Manuel Araújo da Silva, Correio Elvense, que perante a questão do Ultimato Britânico classificava como vergonhosa a cedência perante os interesses britânicos, chegando a editar um suplemento sobre a mesma causa. Todavia seria o Elvense de forma subtil, após o 31 de Janeiro de 1891 que manifestava a aderência a causa republicana quando numa das suas edições classificava o símbolo da causa republicana, como uma bela canção. Postado por Arlindo Sena.