quarta-feira, setembro 09, 2009

2.4. Elvas Portuguesa.A aristocracia vilão e os escudeiros.

Convém salientar que uma parte significativa da nova aristocracia que se desenvolve nos séculos, XIV e XV, tem a sua origem num estrato social que nos primeiros tempos da reconquista vivia entre o arado e a espada face ao inimigo, que com regularidade efectuava as suas “incursões” na chamada guerra guerreada. Nascia neste quadro não institucional uma aristocracia vilã que ao longo do séc. XIII assumiu e pautou-se pelos valores da honra que eram apanágio da nobreza. Ao mesmo tempo que se foi diferenciado de uma vasta população desprovida de posse, que ao serviço da Coroa foi obtendo algumas mercês que lhe permitiram dispor de meios suficientes para o sustento de um cavalo, a compra e manutenção de armas e em alguns, poucos, tinham já um pequeno grupo de servos ou criadagem ao seu serviço. Os Gante e os Garro, não só integraram as milícias concelhias como serviram a tempo inteiro o monarca e as doações régias que foram feitas a estas primeiras famílias da cavalaria que durante semanas serviram no fossado e como tal, eram recompensados com frequentes doações régias. Por vezes o casamento, entre os vários membros da cavalaria permitiu o “nascimento” de uma cavalaria vilã que no séc. XIV se distinguia já com valores sociais e de honra que eram apanágio da nobreza, todavia no presente momento do nosso conhecimento sobre as fontes medievais e nomeadamente a vasta documentação das Chancelarias Reais, não nos permite ainda de ter uma visão clara e objectiva, sobre a origem de muitos cavaleiros da vila de Elvas. Todavia o seu número no nas primeiras décadas do século XV era já significativo uma vez que o privilegiado e cavaleiro, por nomeação régia em 1439, Álvaro de Abreu, era designado vedor dos vassalos do rei, dezassete anos depois [ ANTT, Chanc. D.Afonso V., fol. 13 e segº ] e a sua importância social equiparava-se já desde os tempos da reconquista ao Infanção da nobreza de topo [ Leyes, I,p.47], ganhando um estatuto de privilegiado nas terras da raia . Os escudeiros, o estrato base da “pirâmide” social da aristocracia medieval português, se identificavam na vila de Elvas com a Casa Senhorial D.Henrique, que incluía desde 1321 uma Comenda onde a Ordem de Cristo, que detinha vários bens imóveis e estava incluía ainda na rota da criação do gado lanígero que se deslocava da Beira Henriquina, num percurso onde as localidades de Montalvão e Elvas eram os pontos de apoio no Alto Alentejo na ida a Castela [ ANTT, Ob.cit, fl.38V º]. O número de escudeiros da Vila de Elvas na Casa Senhorial do Infante do Henrique é deveras significativo quando se compara com as nomeações dos funcionários ao serviço do “Navegador”: Afonso Domingues, Besteiro do Couto, 1448 (Ob.cit.fol.27); Afonso Gonçalves, Besteiro do Couto ( Ob.cit., fol.71 Vº ); João Rodrigues Trigueiro, servidor da Casa do Infante e Escrivão do Porto de Elvas (Alfândega 1436) (Ob.cit. fol.36.). Outros escudeiros de renome da Casa do Infante foram sem dúvida: o navegador Álvaro Tristão e seu irmão Nuno Tristão navegadores da Ordem de Cristo, que descobriu várias paragens da Costa Ocidental africana, fixando o reconhecimento da referida costa em Cabo Branco. Lourenço de Elvas – navegador capitão ao serviço de Gil Eanes. Estevão Subtil – Escudeiro do Infante e Gil Fernantes distinto descendente do herói mítico de Elvas com o mesmo nome e que foi Chanceler da Correição da Comarca Entre Tejo e Guadiana. Em Elvas o estatuto do escudeiro praticamente não é mencionado na documentação o que se entende numa terra onde o grande senhor era o rei e como tal deviam servir a casa real nos tempos difíceis que a guerra determinava, contudo no séc. XV eram na sua maioria funcionários da administração régia, de ordens militares religiosas ou casas senhorias como a de D. Infante D. Henrique. Por outro lado, esse papel foi sempre assumido pela cavalaria vilã cujas hostes jamais foram significativas e por outro lado, a ascensão de escudeiro a privilegiado foi uma prática usual reduzindo a persistência de homens não nobres na baixa nobreza. Por fim, há que ter presente que a Nobreza em Elvas, nunca se afirmou no período medieval como um grupo nobiliárquico forte e as linhagens de Estevão Anes e dos Aboim, acabaram mesmo por se extinguir e em parte devido a política centralista de D. Afonso III que acabou por favorecer a constituição de uma nova linhagem constituída por bastardos régios. Por último, a verdade é que o rei era o único senhor feudal e a força, para exigir a uma multidão de vassalos a que exigia fidelidade, terras, “contias” e até as suas próprias não só para a defesa da soberania, mas inclusive para os dominar.