domingo, setembro 20, 2009

2.6 - Elvas Portuguesa: - Os mercadores a sua ascensão profissional e económica

Os comerciantes ou mais exactamente os mercadores, ao longo dos séculos XIV e XV foram se afirmando como um estrato social com capacidade económica de tal forma que alguns deles chegaram a ter loja na capital do reino, como os Fernandes e os Gomes. Na sua grande maioria eram cristãos novos ou judeus, que em pouco tempo mereceram algum reconhecimento no comércio regional na qualidade de almocreves, beneficiados pela isenção do imposto de “Aduana” que penalizava os seus concorrentes castelhanos obrigados ao pagamento desse direito. Como podemos comprovar pela análise das fontes que referem que os homens de fora, pagam tributo sobre as mercadorias: “aquelas que hajam de trazer para aí vender” ou “as cousas que os homens de fora comprarem para levarem para fora do dito termo “. Mas depressa os tendeiros da praça comercial da vila de Elvas se fizeram ao caminho como almocreves e depois, já como mercadores acabaram por fazer fortuna na raia do distrito de Portalegre ao longo das primeiras décadas de quatrocentos numa época em que os produtos de origem colonial, estavam longe de concorrer com produtos oriundos do mundo rural, como os cereais e os gados frequentemente utilizados na prática do contrabando. O exemplo mais significativo do percurso dos tendeiros da vila de Elvas foi sem dúvida o caso de Diogo Álvares Soriano (ANTT, Inquisição de Évora, Manuscritos de Livraria, nº771), que residia na Rua da Carreira dos Cavalos, inicialmente tendeiro e mais tarde, mercador de largo trato e que se especializou como mercador de panos da Índia. Correndo as feiras de Lisboa, Flor do Crato, Vila Viçosa e Elvas e com uma rede de distribuição de longo curso em território castelhano, assegurada pelos seus familiares a partir de Badajoz até Málaga. Os registos documentais associam à sua actividade mercantil a de prestamista financiando outros mercadores elvenses, como os cristãos novos, Pero Vasquez e Álvaro Fernandes, residentes em Elvas (ANTT, ob.cit.nº 1044). Todavia nas rotas comerciais de vizinhança, no sentido de Elvas e Badajoz e vice-versa, estavam na mão dos almocreves tal como no comércio regional a norte do distrito de Portalegre, Pedro Álvares, conhecido azeiteiro da vila, costumava vender sardinhas em Badajoz e azeite em Albuquerque (ANTT, ob.cit nº10440). Nos finais do séc. XIV, o mercador independente da sua origem e nacionalidade em pouco tempo conquistou com o seu trabalho de utilidade pública, a estima social e a tolerância da igreja que então condenava a usura e o pecado da avareza em terras luso-castelhanas pelo menos antes da perseguição a que a Inquisição sujeitou os judeus e cristãos novos. De Elvas para a capital, deslocavam-se António Fernandes, neto de António Fernandes que chegou a ser tesoureiro de D. Manuel e que por laços familiares se ligou a outras famílias de poderosos homens de negócios entre elas, Manuel Gomes de Elvas que tinha residência, na Rua de Nossa Senhora da Vitória (Lisboa) e que foi primeiro mercador da nova cidade de Elvas no trato do comércio colonial nas primeiras centúrias da época Moderna. Mas o período medieval fica marcado pela persistência de uma geração de mercadores que aproveitando a situação estratégica da vila raiana cedo se distinguiram nos mercados locais e nas rotas regionais, sendo reconhecidos pela comunidade local como homens possuidores de “cabedal” (Continua).