sábado, setembro 26, 2009

2.7 – Elvas Portuguesa: - Os grupos étnicos - religiosos e estrangeiros: Os Mouros

Os mouros e os judeus, estavam perfeitamente integradas na sociedade medieval, com os seus bairros próprios e com uma série de privilégios devidamente reconhecidos pela Coroa. Os mouros cuja presença era anterior à soberania portuguesa nunca tiveram o protagonismo dos Judeus que se fixam na vila e nos primeiros tempos da cidade elvense. Era um grupo mais heterogéneo do ponto vista social e económico, distinguindo-se na vida económica e científica de um modo particular nos séculos XV e XVI. A comunidade moura fixada no alfoz do espaço concelhio, encontra a sua origem no período anterior à Reconquista ou por outras palavras a presença muçulmana na “região histórica” de Elvas, foi contemporânea do processo de colonização do Al-Andaluz que se iniciou com a invasão da Península Ibérica em 711. Na verdade, a existência de comunidades muçulmanas e mourarias, deixaram registos arqueológicos ao longo dos tempos históricos, mas são mais objectivos e claros, na documentação medieval, nomeadamente a Sul do Tejo: Alcácer do Sal, Avis Évora, Elvas, Beja e Moura. Todavia, no longo percurso da história árabe no Ocidente, o espaço territorial da “região histórica de Elvas”, foi utilizado frequentemente pelos exércitos dos estrategas árabes, como foram os casos do malado, Ibn Marwan (874-889), sediado na Anaia (actual Marvão) nas suas incursões para Sul e Este da Península. Ou de Makhul outro malado, partidário de Marwan, documentado nas terras vizinhas da Juromenha, como governador e que em diversos momentos pôs cerco a Badajoz. Espaço estratégico para o domínio dos territórios do vale do Guadiana e das regiões de Badajoz e Mérida, nas mãos da dinastia dos Banu Harm desde 1026. Porém não podemos ignorar que Elvas, inexistente como cidade na época romana, foi provavelmente planeada por volta de 884 por Ibn Marwan, segundo o cronista árabe Ibn Al-Althir, que admite ainda antes da existência da conquista de Elvas, reconhecida na toponímia islâmica como Albas, Ilbas ou Yalbas, que no seu espaço territorial possuía uma fortificação incipiente de épocas mais recuadas, que Alexandre Herculano com todas as reservas que a historiografia positivista determina, denominou de "Castro Vitória". A maioria dos historiadores nacionais, defendem que a realidade da urbe elvense no período árabe, tratava-se de uma pequena cidade incapaz de competir com Badajoz, com cerca de 500 a 1000 habitantes segundo o consagrado medievalista Luís Kruss. A sua importância advinha da sua posição militar e económica, a Kura ou Kwar (cidade) de Elvas, para além das suas muralhas abrangia uma rede de atalaias, cuja finalidade era o controlo do espaço em redor como forma de assinalar a presença do inimigo. De resto estas atalaias no corredor militar entre Marvão e Badajoz estão na base dos sucessos e domínio militar imposto por Ibn Marwan nos finais do séc. IX. Nos tempos Medievais, os mouros residentes na vila portuguesa estavam perfeitamente integrados e a sua importância em termos demográficos não está documentada embora há referências bibliográficas no Archivo Municipal de Badajoz de vagas migratórias de mouros livres de Castela, Leão e da Estremadura em direcção às comunas do Alentejo. E a realidade documental prova esta hipótese, de facto, a presença extraordinária de efectivos mouros nos primeiros tempos da reconquista. Não é por acaso que os mouros livres da vila “contrataram” com D. Afonso III (ANTT, Liv. OA.Tit.,II, p.24 Vº), a construção de novas casas na vila. Vivia-se uma época em que os mouros gozavam de alguns privilégios com vista à sua integração social e só ligeiramente adversa durante o período da reconquista do Algarve, uma vez que a coroa Portuguesa receava a fixação moura naquela província do sul de Portugal. Duas décadas depois a comunidade moura florescia do ponto vista económico, embora não haja referência nas fontes documentais relativamente à aquisição de bens imobiliários, característica dos mouros abastados de Lisboa e Santarém, o ouro e a prata faziam parte do rol de bens quitados aos mouros da comuna elvense pelo monarca D. Dinis em 1284. Por outro lado, no interior da mouraria o grau de riqueza era diferenciado e perfeitamente identificado pelo número de indivíduos que constituíam a criadagem de alguns homens de negócio que constituíam a comuna de Elvas e de Vila Boim. Mas a maioria dos mouros tinham na agricultura a sua actividade principal nas terras próprias, aforadas ou de renda. Os albardeiros, sapateiros, pedreiros e outros mesteres ocupavam a vida profissional de uma parte deste grupo étnico que estava sujeita a pesados impostos, tais como: o imposto de capitação (nascimento); a dízima do trabalho, o imposto de compra e venda entre outros. As mourarias de Elvas e vila Boim eram governadas pelo alcaide dos mouros que desempenhava simultaneamente as funções de Juiz. (Continua).