sexta-feira, outubro 30, 2009

IX-Terras da Raia de Portalegre:- Caracterização da Nobreza do Distrito






Durante a segunda metade do século XIX a aristocracia tradicional no Distrito de Portalegre limitava-se a pouco mais de uma dezena família. E entre elas, muito poucas eram descendentes da Nobreza de sangue uma vez que uma parte do grupo aristocrático, atingiu a condição de fidalguia em consequência dos processos de nobilitação após a Revolução Liberal do Porto de 1820. Era o caso, de algumas personalidades nomeadamente comerciantes, militares e intelectuais, que acabariam por constituir uma pequena nobreza, por reconhecimento dos seus serviços prestados à Coroa. Sendo estes casos excepcionais, apenas documentados para os centros urbanos da região, era também nas cidades de Portalegre e de Elvas, que se identificavam a aristocracia tradicional. Assim na capital do Distrito, encontramos os Castel Branco ou os Alvilez, cujos herdeiros em 1881 eram os maiores contribuintes do distrito, na cidade fronteiriça do Caia, a realidade aristocrática reduzia-se aos Marqueses de Penalva. Em todo o caso, estas famílias de referência da Nobreza de Portugal, haviam perdido, já alguns dos seus privilégios tradicionais, caso dos direitos feudais e das encomendas, extintas pelas leis de 1821 e 1841 e dos vínculos em 1863. Apesar da perda de parte dos seus privilégios senhoriais, mantinham algumas terras e alguns direitos, como alguns foros que continuavam a persistir. A perda dos velhos direitos feudais, senhoriais, por esta antiga nobreza permitiu a ascensão de uma nova aristocracia de raiz “liberal”, verdadeiros burgueses na essência da sua origem e comportamento, cuja via de enriquecimento era normalmente resultado da participação directa em novas actividades agrícolas, comerciais e industriais. Todavia, tanto a velha nobreza como a nova, em todo o Distrito de Portalegre, tinham em comum a posse de vastas extensões de terra exploradas segundo critérios tipicamente capitalistas, cujo aproveitamento dos seus recursos agrários era feito de forma intensiva e eficiente, sobretudo em muitas propriedades agrícolas que anteriormente estavam em estado de manifesto abandono ou incultos, de resto esta mudança se deveu à política agrária da Regeneração. Nesta época, em terras norte alentejanas, a posse de um título era um factor de valorização e afirmação social, independentemente da natureza do mesmo (social, académico ou até curiosamente de ordem religiosa). Este gosto pelos títulos era notável na cidade de Elvas, assim todos os Presidentes de Câmara, durante a Monarquia Constitucional procuraram obter durante a sua regência política, o título de Comendador da Ordem de Nossa Senhora de vila Viçosa, que utilizavam na vida pública e política. E esta designação, era fundamental para uma posição cimeira no protocolo municipal que estava assim definido: 1º Os militares; 2ºOs comendadores; 3ºOs doutores; 4ºOs representantes das Câmaras; 5º O Escrivão de direito e 6ºAs instituições. Este gosto pelos títulos por parte da nova elite elvense em parte tinha uma justificação bem determinada e que se definia pela sua condição económica, uma vez que uma parte considerável desta pequena aristocracia nobilitada nas décadas de 1830,1840 e 1850, eram reconhecidos como arrendatários de casas nobres como a do Conde Cadaval, Conde de São Martinho e inclusivamente da Casa de Bragança que contudo era mais representativa em termos de património no Distrito vizinho de Évora (CONTINUA).