terça-feira, outubro 13, 2009

VI -Terras da Raia do Distrito de Portalegre " A Sociedade e as realidades Sociais"(1).

Considerações Gerais: A sociedade que se desenvolveu nos principais centros transfronteiriços do distrito de Portalegre, como de resto na sociedade portuguesa de Oitocentos conheceu ao largo do período objecto de análise, novos critérios de evolução social que estavam então em pleno desenvolvimento desde a Revolução Liberal de 1820. Fruto desta circunstância revolucionária, não só se verificou a valorização de valores como a riqueza e o saber, enquanto que elementos básicos de diferenciação social como, os privilégios jurídicos tradicionais foram praticamente eliminados, com o devido reflexo no peso territorial e económico de uma aristocracia tradicional residente no distrito ou exterior a ela, mas com bens fundiários na região. Nascia, assim, uma nova forma de hierarquização social de baseada essencialmente na desigualdade da partilha de benefícios económicos, de posse da terra por aquisição e que iniciava de um modo particular, o controlo dos meios de produção. Esta realidade social, era uma consequência da distribuição singular da propriedade agrária, factor principal das grandes desigualdades económicas observáveis numa sociedade de base camponesa em que a maioria dos seus componentes estava directamente ligada aos trabalhos no campo, em tarefas agrícolas e pastoris. Todavia esta situação estava em plena mudança na transição para o século XX, mercê do desenvolvimento de novas profissões relacionadas com os transportes públicos e com o avanço dos transportes. De um modo especial nas cidades do distrito já que apesar das novidades que as novas profissões traziam as gentes residentes nos meios urbanos, as vilas da raia continuaram mantendo até ao primeiro terço de Novecentos a prática agrícola como a actividade agrícola como podemos comprovar pelo quadro apresentado.
Distribuição dos activos por sectores económicos em (%) na vila do Marvão.
Sectores
1870
1890
1900
1911
1930
Primário
77.3
76.8
80.0
78.0
77.0
Secundário
18.8
19.2
15.5
15.0
14.0
Terciário
3.9
4.0
4.5
7.0
9.0
Nos núcleos rurais e apesar de não haver coincidência nas series estudadas a situação do Marvão, repetiu-se com diferenças mínimas nas vilas de Arronches e Campo Maior, ao largo da segunda metade do século XIX. Observou-se que a perda de efectivos no sector primário durante as décadas de 1870 e 1890 provocou um certo retrocesso do contingente sectorial, como resultado provável das crises agrícolas que se manifestaram na produção agrícola que se viveu em todo o sul de Portugal. De facto, não podemos esquecer os reflexos da forte crise agrícola e pecuária nestas décadas, como resultado da concorrência do trigo norte-americano ou da chegada das peles oriundas da América Latina, com consequências directas nas explorações agrícolas da região devidamente comprovadas pela baixa de preços nos mercados dos municípios fronteiriços. Assim, só na última década do séc. XIX, se assistiu a um visível crescimento da população activa agrária, uma vez superada a crise precedente, com a reactivação dos sectores agrícolas e pecuários mais exactamente. No sector secundário, a vila de Arronches chegava aos 15.7 % na viragem do século quando aquela realidade administrativa distinguia-se por um conjunto de médios proprietários que se dedicavam ao aluguer de apetrechos agrícolas e um pequeno grupo de almocreves distinguiam-se no conjunto das vilas com tal actividade económica. A vila de Campo Maior no sector era sem dúvida a menos representativa tal como o sector terciário que desde finais do século XIX era mais expressivo no Marvão em parte pelo impacto dos funcionários ferroviários sediados naquela vila ao serviço da Linha de Cáceres. Mas é necessários termos em consideração a documentação relativa à década de 1930 para podermos comparar a realidade distrital.
Distribuição dos activos por sectores económicos em (%) nos centros populacionais da raia de Portalegre
Primário
Secundário
Tercário
Marvão
77
14
9
Portalegre
71
19
10
Elvas
68
29
13
Arronches
79
15
6
Campo Maior
82
12
6.1
Média
75
18
7
E se é certo que o sector primário continuava sendo o sector de actividade económica mais representativo em todas os espaços populacionais do distrito, as realidades agrícolas das vilas de Arronches e Campo Maior, eram as áreas agrícolas mais representativas da raia distrital. Uma vez que o desbravamento das terras durante a Campanha do Trigo corresponderam a novos arroteamentos ainda que os grandes proprietários fossem exteriores a essas realidades municipais. No caso de Arronches, muitas das herdades estavam nas mãos de alguns proprietários de Portalegre como os Castelo Branco e alguns poucos de Elvas como era a Casa Agrícola dos Rasquilhas que possuíam algumas das melhores propriedades locais como a da Contenda. No caso de Campo Maior tal como em Elvas, era tempo de afirmação dos arrendatários, que se tornariam ainda durante o Estado Novo como grandes proprietários, caso dos Corado, dos Minas e dos Rosados. O sector secundário a cidade de Elvas era de longe o núcleo mais importante graças a afirmação do seu comércio desde finais da década de 1890 quando as principais casas comerciais da capital tinham os seus agentes no referido núcleo urbano, tal como nas principais cidades portuguesas da metrópole. O sector terciário concentrava-se nas cidades de Portalegre e Elvas, com base no funcionalismo público crescente desde a implantação da I República e na presença militarizada e policial que no caso de Elvas líder do sector, com 13% dos quais 6% correspondia à sua população militar ( Continua).