quarta-feira, dezembro 16, 2009

IX-Terras da Raia de Portalegre: Os proprietários da Capital do Distrito (1850-1930)




Na capital do distrito os representantes da alta burguesia não se identificavam com os grandes proprietários de terra ou gados, como era evidente na maioria dos municípios que constituíam o Distrito de Portalegre.Os Larcher e os Robinson ocupavam o topo da hierarquia fabril da região. Os primeiros, os Larcher, constituíam a família industrial mais importante da região e exerceram o controlo sobre a maior parte dos estabelecimentos manufactureiros de têxteis que se localizavam na zona do município de Portalegre até cerca de 1870?... Os segundos, os Robinson, de origem inglesa, dedicaram-se inicialmente aos negócios da exploração da cortiça, todavia entre finais e começos do séc. XX eram já grandes industriais, cuja riqueza em parte, resultou da compra de uma parte das unidades fabris dos Larcher. De facto, os Larchers a princípios de novecentos, enfrentavam graves dificuldades económicas, concretamente financeiras, para manter a actividade das suas fábricas. E uma das decisões adoptadas pela família neste período de crise fabril na àrea dos "tecidos e das lãs", consistiu na venda e no arrendamento de algumas das suas instalações fabris, como podemos observar na seguinte passagem documental: “2ª Que a renda anual é de seiscentos mil réis (…). 3ª Que o arrendatário fica obrigado a conservar todas as máquinas e utensílios da referida fábrica e que constam os inventários assinados e rubricados por todos os outorgantes”. Uma parte dos recursos monetários obtidos através das referidas operações financeiras foram na sua quase totalidade destinadas à compra de algumas propriedades agrícolas, que se tornaram fundamentais para o negócio da cortiça que nos finais do séc. XIX e começos da passada centúria se situavam na zona agrícola de Portalegre e Arronches. De resto. a prática seguida pelos grandes e médios proprietários portalegrenses, não se centrava no desenvolvimento de áreas de plantação de culturas agrícolas mas no arrendamento das áreas dedicadas à plantação de sobreiros, como se pode ler no arrendamento do médio proprietário de Portalegre, João Carlos Tavares, que em 1891 assinava um contrato onde se estabelecia para arrendatário, entre outras, as seguintes condições: “Que este arrendamento pela criação de cortiça que a condição já tem em sua consideração o pedido por onze anos que houvera o seu começo no primeiro de Setembro de mil oitocentos e setenta e oito e dando fim em mil oitocentos e oitenta e nove”. Esta prática de arrendamento foi também seguida pelas velhas famílias aristocráticas da cidade como os Castelo Branco, ainda que os Robinson fossem os grandes negociantes da cortiça, de facto esta família industrial chegou mesmo a constituir a firma “Robinson Brothers” e alguns comerciantes exteriores ao município surgem também como correntes no mercado portalegrense da cortiça era o caso de Mathias Gomes Ponce de origem espanhola, mais concretamente da região da Andaluzia. Mas se a riqueza agrária, na cidade de Portalegre continuava a ser dominada pelas “melhores famílias” da nobreza local. Entre os principais contribuintes da cidade em finais do século, todos referidos na documentação como proprietários agrícolas, destacavam-se: 1º Conde Avilez (655$185 rs.); 2ºDr.Martinho Coutinho (593$481 rs); 3º Álvaro Sousa Coutinho (575$686 rs); 4º Luís Xavier Barros (537$736 rs); 5º José Lupa (518$736 rs); 6ºDr .António Juzarte (392$421 rs.) 7º Dr.Joaquim Juzarte (383$135 rs) 8º Francisco Velez Caldeira (370$000 rs) 9º António Joaquim Cassola (303$422 rs) e 10º DRª.Maria José Segredas (296$372 rs). A maioria dos pequenos proprietários portalegrenses vivia da exploração de bens rústicos variados como hortas, olivais, vinhas e outros cultivos de matriz agrícola. Cuja propriedade era definida por termos diferenciados na documentação notarial como: “hortas”; “tapadas”; “fazendas” e “pomares”. Na transição entre a I República e o Estado Novo, surgiam as Casas Agrícolas dos primeiros grandes proprietários de origem não nobre como era os casos de Francisco Romão Tavares, que em finais do séc. XIX já tinha na posse algumas herdades sob forma de arrendamento mas é durante a I República que se destaca como um grande criador de gado e proprietário de vastas áreas de exploração de cereais e de plantação de “sobro”. Mas na verdade a Casa Agrícola de referência do ponto vista agrário, uma das mais importantes do Distrito era de Manuel Moura cuja vantagem do ponto vista comercial era inegável pelo facto de se situar junto ao caminho-de-ferro que lhe permitia colocar com a maior rapidez os seus produtos nos mercados regional e nacional. Por último, a Casa Agrícola dos irmãos Elias Martins, João Elias Martins, antigo arrendatário que mediante a compra de várias herdades foi enriquecendo nos anos imediatos à implantação da I República, embora não atingindo o vasto património do seu irmão Manuel Elias Martins, grande produtor de cereais que acabaria por adquiria o Palácio do Conde de Vila Real. Se é certo que a concentração da propriedade foi evidente durante a transição para o Século XX a verdade é que até às vésperas de mudança de regime nos anos trinta o número de pequenos proprietários foi aumentando em função da fragmentação de antigas herdades situadas nos arredores da cidade de Portalegre.