domingo, abril 18, 2010

Dia Mundial do Património e dos Sítios - As praças da Restauração da Identidade Nacional


No Dia Mundial do Património e Sítos deixamos nesta breve referência sem preocupações científicas uma simples reflexão de três das grandes praças que se edificaram durante a Restauração com o objectivo de defender a soberania nacional. Referimo-nos – A Praça Militar de Valença – que se situava no Minho, que era então um importante teatro de guerra, com condições favoráveis aos assédios de cerco e à guerra guerreada, as suas férteis terras, a existência de gado e cavalos justificavam tal tipo de operações militares. Mas era também uma região com uma ocupação humana notável fundamental para a política senhorial e régia de recrutamento. A Praça Militar de Almeida – que se situava na Beira numa via de invasão notável durante a Idade Média, mas que perdeu uma importância muito significativa durante a época Moderna, a pobreza de mantimentos e a queda demográfica explica a sua decadência, um século depois da sua edificação. A Praça Militar de Elvas – que se situava no Alentejo, numa época em que esta província era um teatro operacional de guerra por excelência e sujeita regularmente à guerra de assédio nomeadamente numa vasta zona entre Alegrete e Arronches.



Perspectiva sobre a Fortaleza de Valença do Minho


Obras anexas: baluartes, guaritas e fossos - Valença do Minho


Localização: - A fortaleza de Valença do Minho situa-se na margem esquerda do rio Minho, e destinava-se ao controlo sobre a passagem do dito rio e à defesa da povoação portuguesa, relativamente a qualquer avanço inimigo ao território nacional. Edificação: Durante a segunda metade do séc. XVII até inícios do séc. XVIII, sob risco do arquitecto francês, Miguel L´Ecole, porém as obras foram condicionadas entre 1654 a 1661, altura em que a praça passou para o domínio espanhol. As obras finais ocorreram sob direcção de Manuel Pinto Lobos, que deu por fim o projecto inicial. No final do séc., XVIII ocorreram algumas obras de reforço da Praça, como os muros do Paiol da Pólvora e foi levantado o Paiol do Açougue. A estrutura arquitectónica: definida por sete baluartes, pela obra da Coroada com três baluartes e dois meios baluarte e várias obras anexas como os revelins e os fossos. E é a maior praça portuguesa em cintura amuralhada. Momentos históricos: Foi protagonista como espaço de mobilização militar e de resistência durante as Guerras Peninsulares tendo sido vencida pelas tropas de Soult em 1809 que fez explodir as chamadas Portas do Sol. Tomou partido da resistência absolutista sob chefia de D. Miguel durante as guerras liberais, mas perderam essa causa em 1830 quando o almirante inglês Charles Napier, libertou a mesma das forças absolutistas. 



Perspectiva área da Praça Militar de Almeida

Localização: - Praça Militar de Almeida na Vila de Almeida e cobre defensivamente toda a zona histórica da vila . Edificação - Logo após a Restauração com o fim de renovar a estrutura obsoleta das defesas medievais e neste contexto, o conceito da nova máquina de guerra que então foi edificada justificou-se no âmbito de criar naquele espaço a sede Governo de Armas da Beira para além da função natural defensiva que aquele espaço personifica. A supervisão das obras da Praça foi feita pelo engenheiro Lassart, que logo de seguida esteve na equipa que coordenou algumas das  obras de fortificação que ocorriam então em Elvas. Apesar de tudo a traça do projecto é atribuído a Pedro Gilles de St.Paul, segundo o método de António Ville. A estrutura arquitectónica: Trata-se de uma praça de planta hexagonal constituída por seis baluartes, aos quais corresponde o mesmo número de revelins . A reforçar o carácter defensivo da Praça há guaritas em todos os ângulos dos baluartes e duas no meio das cortinas. O reparo e os revelins são encontrados em toda a sua dimensão. Momentos históricos: Praça sujeita a constantes assédios na época da Restauração e nas Guerras Napoleónica, na qual a praça da Beira, capitulou face ao exército do General Massena. Perdeu a sua designação de Praça de Guerra em 1927.


Praça Militar de Elvas - Perspectiva área


Perspectiva norte da Praça


                                                         Vista sobre a Porta de Olivença



  Perspectiva a norte da Porta da Esquina com vista sobre a cobertura do Paiol de Santa Bárbara e Aqueduto das Amoreiras

 
                                       Perspectiva do Norte Praça com vista sobre o Castelo

Localização: Praça Militar de Elvas, situa-se na cidade de Elvas e cobre defensivamente toda a área urbana. Edificação: Justificou-se no âmbito da defesa regional e como obstáculo de progressão para o avanço das forças invasores para a capital do reino, iniciou-se logo após a Restauração, com o convite a Jean Ciermans, mais conhecido por Cosmander para inspeccionar as fortificações do reino e proceder aos melhoramentos necessários. Em 1644 as novas fortificações garantiam a defesa de metade da cidade e à data da morte de Cosmander em 1648, faltava construir, uma meia baluarte e algumas obras exteriores e dois redentes, um deles não chegou ao nosso tempo. A estrutura arquitectónica: Definida por sete baluartes, quatro meios baluartes, um redente e várias obras anexas como fossos. Constituí um polígono irregular, é a maior praça abaluartada portuguesa. Momentos Históricos: Defendeu-se a soberania nacional durante o Cerco que se iniciou no Outono de 1658 e que terminou com a célebre Batalha das Linhas de Elvas em 14 de Janeiro de 1659. Afirmou-se mais tarde como placa de estacionamento militar durante as Guerras Peninsulares e como espaço de mobilização do exército português, primeiro com as campanhas de África nos finais do séc. XIX e depois durante a Guerra Colonial. Foi também posto avançado de prevenção e de comunicação com a imprensa periódica nacional durante a Guerra Civil de Espanha. As três praças hoje são candidatas a Património Mundial da UNESCO, uma candidatura interessante, mas um desafio difícil independente dos processos de candidatura, a concorrência hoje é muito forte há trinta ou vinte anos, tais candidaturas não teriam tido dificuldade de classificação, todavia hoje o conjunto é uma mais valia, mais aí a prioridade cada vez mais está centrada em projectos não europeus … porém tudo o que for feito pelo património independentemente da sua classificação deve ser motivo de aplauso e de apoio, se tiver sobretudo,  coerência e  rigor científico, a singularidade é naturalmente o ponte forte nessa perspectiva ... senão, não teremos jamais, credibilidade e tudo o que fizermos será efémero....