quarta-feira, dezembro 01, 2010

6.1. A Modernidade - A guerra guerreada antes das grandes ofensivas ...

O Castelo Medieval adaptado aos tempos da modernidade da artilharia

A complexidade construtiva e defensiva entre o reduto defensivo e as obras anexas, determinante na guerra guerreada e no levantamento da guerra de cerco.

A outra face da política institucional da cidade de Elvas, ocorre no âmbito da questão da defesa que marcou a vida em toda a raia portuguesa e espanhola, uma vez que os assédios foram uma constante junto das populações fronteiriças. É certo que no caso, da cidade de e Elvas, as estruturas militarizadas estavam já levantadas e normalizadas de acordo com novas exigências que a nova tipologia da guerra determinava – o fogo. Mas limitadas no campo operacional em meados de seiscentos, considerando a presença das hostes militares, reduzidas a uma presença formal de um pequeno número de milicianos. Era de resto uma realidade normal numa época em que a mobilização não era uma prática do Estado Português e de muitos estados ocidentais que recorriam com frequência a grupos de mercenários, que geralmente convocavam para guerra quando ameaçada a integridade do território nacional. Todavia antes das Guerras da Restauração, a acção bélica, limitava-se ao saque e à pilhagem os relatos documentais provam estas acções quase frequentes após a recuperação da soberania nacional, por vezes eram os portugueses a entrar em solo extremenho …“se nam furtam parecem se vam às pilhagens a Castella. Animase a cavlaria com algum proveito dos soldados e grande prejuízo do serviço da Vossa Magestade.  Outras vezes eram os castelhanos a entrar no território alentejano, não faltando medidas com a finalidade de impedir tais operações, como se comprova no testemunho de João Mendes de Vasconcellos, governador da praça militar de Elvas …“ e vendo eu a continuação com que os pilhantes entravão neste reino ordeney que todas as noytes sahissem duas paridas a ver topavão com eles” .Esta prática sem apoio institucional não impediu que outro governador militar da cidade de elvas, André de Albuquerque se envolvesse nestes assédios, na chamada guerra guerreada cujo objectivo era obtenção de recursos como se pode ler num dos seus relatórios … “Sendo mais metade delles (cavallos) castelhanos com que as nossas tropas  tem crescido não só no número, mas na qualidade pella diferença que fazem estes aos nossos”. De resto na mesma época, a administração central, tomava providências relativamente aos constantes assédios castelhanos, o monarca solicitava aos corregedores e magistrados de Évora, Portalegre, Crato, Avis e Ourique, que procurasse proteger os recursos nacionais …” que todo o pão que ouver nos lugares abertos, nas aldeãs e cazaes, se recolherão pella terra adentro o mais que fobr possível ”. O ataque às populações indefesas permitia a obtenção de recursos vitais do ponto vista económico e social de quem estava na ofensiva, justificando a preocupação e a condenação da administração central e dos governadores de ambas as partes da contenda, o General André de Albuquerque era uma excepção e o futuro herói do Cerco e Batalha das Linhas de Elvas, argumentava a importância dos assédios do ponto vista militar, quando as operações militares de grande envergadura já tinham iniciado com a batalha do Montijo em 1644, na sua opinião…” Quando das entradas senão outra utilidade que a de se exercitarem os soldados, fazendo-se práticos na guerra, era bastíssima para não se evitarem …. faltará aos soldados e muitos oficiais que então de novo na cavalaria, o exercício, e disciplina com que se ande fazer capazes para as ocasiões maiores ”. Contudo, estes bandos organizados não deixavam de usar a violência na sua passagem mesmo junto às populações nacionais, como podemos verificar na Carta dirigida pelo governador da praça de Elvas, Joanne Vasconcellos que em 1646, pede á Coroa que castigue …com todo o rigor os furtos e insultos que os soldados cometem nos lugares por onde passam….O certo é que a guerra de saque e pilhagem acabou por ser um meio de apropriação de gados fundamentais para as ofensivas de maior dimensão numa época em que a rivalidade e o apertado cerco das forças vizinhas não ofereciam uma prática de contrabando organizado como na época medieval em que o gado cavalar e as armas atravessavam a raia com normalidade possível para a época mesmo quando a contenda envolvia as duas nações ibéricas. [continua].