domingo, fevereiro 27, 2011

7.2 - Elvas Portuguesa : O fim do Antigo Regime, o último meio século.



 A cidade como Praça  militar afirmava a sua vocação de placa de estacionamento militar uma realidade na Época Contemporânea.

No último meio século da modernidade, a cidade continuava a recuperar, o crescimento populacional que era evidente de resto, em 1739, Elvas era o centro mais populoso do Alentejo, chegando aos 12.408 habitantes e em vésperas do início da época contemporânea em Portugal, em 1820 chegava aos 16.069 habitantes, com excepção do início do Séc. XIX em que a população triplicou durante meia dúzia de anos a partir de 1806 face ao estacionamento militar no contexto político-militar das Guerras Peninsulares. Continuava-se nesta fase de transição e na continuidade do que fora a segunda metade do séc. XVII e todo o século XVIII, a centrar toda a vida quotidiana na prática agrícola, as Beiras que durante época de setecentos tinha contribuído para o pré-desenvolvimento comercial da cidade com a chegada de alguns mercadores e tendeiros, tornava-se agora um espaço de recepção para as vagas de migrantes que iriam labutar nos campos agrícolas do termo de Elvas. Nessa época, chegavam as primeiras vagas de ceifeiros, os ratinhos que a documentação cita pela primeira vez para o ano de 1766, não havendo provas documentais se tal deslocação para terras para sul se deveu a alguma iniciativa da Câmara, todavia nas actas municipais há referência periódica à falta de braços e por Portaria de 17 de Julho de 1815, o Comando Geral da Praça autorizava o recrutamento de soldados em tempo de paz para a prática agrícola numa época em se assistia ao aumento da terra arroteada que seria, a grande conquista da lavoura elvense a partir de meados do século. Porém uma particularidade, ocorreria no concelho de Elvas antes da Revolução Liberal do Porto de 1820 e das várias reformas entre elas as de Mouzinho da Silveira que contribuíram para o aumento da área cultivável, que tem a ver com uma carta régia datada de 13 de Dezembro de 1812 na qual se estabelecia a venda de todos os bens livres da coroa: casas, capelas, propriedades e bens próprios, que seriam adquiridos por uma aristocracia não residente e por uma burguesia lisboeta em ascensão, como era o caso da Herdade do Alcaide, gerida pelo morgado dos Peixinhos que passa a pertencer a José Martinho Costão Falcão um rico burguês da capital ou da Herdade da Alcarapinha, que passava definitivamente para o Conde de Vila Flor, D. Rodrigo de Noronha que herdara parte da mesma propriedade que pertencera aos padres do Convento de S. Paulo. Ao mesmo tempo uma nova realidade surgia ainda de forma incipiente, os arrendatários com posse para fazer a gestão de uma herdade, era o caso de Manuel Joaquim Gonçalves que recebia mediante contrato de arrendamento da Herdade de Água de Banhos que pertencia à casa do Marquês de Penalva. No interior da cidade e nos seus arrabaldes, surgia um pouco por todo o território as hortas de dimensão variada, adjunta às plantações de olivais e nos espaços ainda vagos no interior da cidade. Apesar de tudo, o esforço de ordenação económico do território era novamente interrompido, face há conjuntura de Guerra na região do Caia, concretizada no Combate de Arronches e na Guerra das Laranjas. Foram os primeiros embates no contexto de uma conjuntura internacional em que o território português estava sob ameaça das forças franco-espanholas, que se esboçava de forma concreta, desde o Tratado de Santo Ildefonso (assinado com a concentração de tropas espanholas junto à fronteira) e que se tornavam evidentes em acordos posteriores, nomeadamente no Convénio de 1 de Fevereiro de 1801: “…que previa a invasão do nosso país caso não abandonasse o campo inglês”. Mas o Tratado de Paz assinado em 7 de Junho de 1801, em Badajoz, afastava de forma muito breve a conjuntura de guerra na região do Caia apesar da perda da vila de Olivença. Uma vez que Napoleão decretou o Bloqueio Continental, que desde logo constituía uma ameaça a Portugal, velho aliado da Inglaterra que ignorou o fecho dos seus portos à navegação inglesa, como ultimava o referido Tratado. Uma vez mais estava ameaçada a integridade do território português, enquanto que aliança anglo - lusa se concretizava na negociação de um tratado de auxílio e de comércio; a aliança franco-espanhola preparava a invasão de Portugal, pondo em causa a integridade do território continental que seria retalhado em três partes e das nossas colónias. Portugal preparava-se para a guerra, procurando assegurar a defesa da sua ampla terrestre, desde Valença a Tavira, destacando-se a região do Caia, onde pela primeira vez o estacionamento militar, demonstra a importância daquela entrada natural tão utilizada pelos exércitos invasores desde a época moderna. Na verdade nas praças militares de Elvas e Campo Maior concentraram-se cerca de 41 regimentos de infantaria e 11 de artilharia, totalizando cerca de 57.000 homens, quase o dobro de outras concentrações em regimentos de infantaria e cavalaria na raia, casos de Valença, Chaves, Bragança e Almeida. A preparação para guerra era acompanhada pela destruição das áreas de cultivo à volta da Praça para evitar a existência de reservas alimentares que favorecessem a possibilidade de pôr cerco à cidade. As invasões francesas jamais puseram em perigo a Praça militar que seria apesar de tudo, protagonista na 3ª Invasão francesa, quando o espaço abaluartado elvense se afirmou pela primeira vez como placa de estacionamento militar, funcionando como um verdadeiro hospital de campanha para o qual, durante dois  comboios sucessivos foram transferidos vários feridos no teatro bélico da Batalha de Albuera em 16 de Maio de 1811. Da Praça militar de Elvas saíram vários regimentos que constituíram as forças aliadas (já no contexto da Guerra Peninsular e entre) e entre elas o Regimento de Infantaria nº17, constituído por elvenses e que mereceu o elogio do General britânico Lumlry e o Batalhão de caçadores nº8 comandados pelo Tenente General Hill que se destacaria na tomada de Badajoz (1812) e outras que se sucederam até à saída do exército francês do território espanhol, como foram os casos de Carrión (1812), Vitória (1813) e S.Sebastian (1813). O protagonismo dos militares estacionados na Praça Militar elvense nas guerras liberais marcava o fim da época Moderna, na qual se destacavam os comandantes dos regimentos da Infantaria nº3 e nº4, respectivamente, o Coronel António José Antunes e o Marechal António Joaquim da Gama Lobo que defendiam a causa miguelista.






quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Os dias da História: O bombardeamento de Bagdad

A 17 de Fevereiro a ONU sob comando militar dos Estados Unidos inicia-se a operação militar dos aliados com a finalidade de retirar o Iraque do Kwait . Depois da recusa do ditador iraquiano em cumprir o ultimato decretado pela ONU iniciou-se a operação militar “Tormenta do Deserto”, cuja operação foi caracterizada pela utilização do utilização de armas, sofisticadas e modernos em termos de tecnologia militar. Esta operação caracterizou-se por dois tipos de operações os bombardeamentos e a guerra terrestre. Na acção de bombardeamento, o mesmo esteve centrado numa serie de pontos estratégicos, como fábricas de armas e bases aéreas. O objectivo da coligação aérea constituída por 1.500 aviões, sobretudo por britânicos e norte americanos, que com base na supremacia aérea tinha como finalidade a rápida destruição dos mísseis iraquianos que segundo Saddam Hussein seriam utilizadas para atacar a Israel. A ofensiva terrestre, teve início a 24 de Janeiro e num período de 100 dias decidiu a guerra a favor dos aliados. As tropas da ONU atacaram simultaneamente desde o sul e oeste, sem que o exército iraquiano oferecesse grande resistência. A vitória total ocorreria a 27 de Fevereiro, quando as tropas do Kwait entram na capital do emirado. O balanço da operação da ONU, foi marcada pela reconquista do Kwait  e a neutralização do poder de Bagdad, enquanto que os Estados Unidos e ONU saíram prestigiados do conflito como resultado de uma aliança contra um agressor árabe e que determinou a queda do poder de Saddam Hussein.          

sábado, fevereiro 12, 2011

7.1.Elvas Portuguesa - A Paz e a reconstrução no final do Antigo Regime na cidade do Caia.


No final do Antigo Regime a fortificação da cidade completara-se


O Forte da Graça o último reduto defensivo mas uma das marcas da militarização de fronteira.


Entre as sentinelas e os campos, a renovação agrícola era uma opção 


Nas margens do Guadiana o contrabando era outra forma regular de vida entre as práticas agrícola e  comercial

As décadas finais do Antigo Regime marcam o regresso aos campos agrícolas em terras do Caia num período em que a prioridade de organização económica manifesta-se um pouco por todo o concelho de Elvas. Que nos fins de setecentos mantém uma forma de exploração agrícola medieval e tradicional, com amplas áreas do seu território ainda num estado selvagem, predominando o bosque e a mata em vastas áreas do seu território. De facto, após quase meio século de guerra quase permanente, o abandono da prática regular da exploração dos campos agrícolas, determinou que a pecuária se tornasse uma opção, aos campos de cereais. Assim o número de rebanhos cabras e ovelhas estavam em crescimento e disputavam um espaço no mundo rural onde os alinhamentos de vinhedos ( contava-se nesta época mais de uma meia dúzia de herdades que apostavam nos vinhedos, casos da Torrinha, Enxara, Vale de Marques, Mouros, Varche, Caldeiras e Amoreira) e olivais, caracterizavam a paisagem agrícola, colorida pelo afolhamento trienal, uma prática seguida pelas casas agrícolas do distrito. De resto, o comércio da cevada e do trigo, duas das culturas cujo cultivo ainda sustentava a capacidade económica de alguns lavradores, tornava-se pouco lucrativa e gerava descontentamento face as imposições da coroa, que desde 28 de Julho de 1678, só permitia o comércio de tais produções agrícolas, uma vez abastecido o Assento ou seja, a partir do momento em que era assegurada a auto-suficiência alimentar das forças militarizadas, homens e cavalos. A documentação coeva, refere o grande esforço dos proprietários rurais, independentemente da sua dimensão na limpeza dos campos com frequência ao longo de setecentos face às matas que cobriam as outrora as terras de cereais e de olivais, documentadas pela primeiras em 1689 quando a ameaça de guerra parecia poupar os campos agrícolas do termo de Elvas. As grandes propriedades de um modo geral permaneciam na posse de uma aristocracia exterior ao concelho e a um pequeno grupo de aristocráticas que residindo ou não na cidade, eram então os “donos “ da terra em Elvas. Distinguindo-se então alguns poucos burgueses da capital com alguns investimentos na exploração agrária era os casos particulares, de Augusto Lima Mayer que adquiriu a herdade do Alcaide em 1698 ou de  António José de Andrade que em 1875 adquiriu a sua primeira propriedade nos arredores da cidade a herdade das Arcas de São João por volta de 1875. Essa propriedade cuja organização já seguiu o conceito de monte que fará tradição nos montes alentejanos entre meados do séc. XIX e a centúria seguinte, era dotada de casas de moradia, granja, pastagem, terras de semeadura  e mato de azinho, e era propriedade de D. João da Silva Pessanha, uma família prestigiada com reconhecimento nobiliárquico desde os tempos medievais. Em meados do século XVIII, a cidade voltava a animar-se com a presença de mercadores sem esplendor e a importância económica da época de quinhentos, mas estavam lançadas as bases para a reanimação comercial que tornaria Elvas na cidade comercial de importância na raia em finais do século XVIII. A chegada de comerciantes, maçanos e caixeiros, oriundos da Beira e particularmente da Vila da Sertã entre eles destacam-se o mercador Domingos Lopes e os tendeiros José Silva, Venceslau Mendes, Anastácio Mendes que marcam a primeira migração de homens com algum capital que se fixam ou mantêm relações económicas na cidade. No âmbito das relações inter-regionais animavam-se as rotas dos almocreves com o norte alentejano e a ligação das barcas entre as vilas vizinhas Elvas e Olivença, que voltam animar a relação agrária e comercial interrompida com a destruição da ponte durante a Guerra da Liga em 1709. Para tal era criada a companhia das barcas em 1718 que existiu até 1812, altura em que tal serviço foi interrompido, depois de ter estado ao serviço de particulares durante os finais do séc. XVII, nomeadamente de Manuel Fernandes Largo, que utilizou a barca ao serviço das herdades de Malpique e Defezinha, antes da aquisição da nova barca que custou 70.000 rs. Em 1783 e na transição para o séc. XVIII estava nas mãos de um agrário de Olivença, Miguel Garcia, numa época em que o contrabando tinha-se tornado uma forma regular de vida ao longo do Guadiana, face à existência de uma fiscalização que se limitava às áreas fortificadas. Mas, sem dúvida que a nova companhia deu um novo alento ao intercâmbio entre Elvas e Olivença, mesmo quando perdeu oito das suas doze barcas num pavoroso incêndio nas margens do Guadiana. No final do Antigo Regime, a cidade de Elvas e o seu termo, estavam em plena recuperação, os historiadores tradicionais referem a existência de cerca de 5000 vizinhos, mas fontes que consultamos levam-nos a dados reais e mais objectivos, a população cifrava-se em cerca de 15.800 almas  e uma % elevada de efectivas militares, pela primeira vez na Praça militar existia uma população aquartelada, iniciava-se o processo de militarização de fronteira com estacionamento militar e com o esforço construtivo no plano militar, as estruturas e o arame farpado marcava a nova realidade de coexistência entre civis e militares. Longe de outras épocas, onde Elvas era referência dos mercadores e viajantes, para além dos obstáculos naturais o testemunho da violência da guerra e dos cercos, estava marcada nos solos os barrancos abertos pelas bocas-de-fogo ocupados pela água ampliara o isolamento e a interioridade da cidade que era então a porta de saída para a Europa que então já soprava os ventos do Liberalismo, nesta época em que ainda vigorava o Estado Moderno e Absoluto.

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

7. Elvas Portuguesa: - O século XVIII uma época de prevenção.


As vilas, as cidades, as nações, os impérios, têm nas suas histórias períodos, obscuros, mal estudados ou pouco referenciados na sua memória. O Século XVIII é para a história da cidade uma época com essas características, de facto depois do seu período áureo correspondente a sua elevação à categoria administrativa de cidade e após o seu protagonismo na época da Restauração, torna-se sobretudo num espaço de prevenção. Ainda longe da militarização a fase final do Estado Moderno e Absoluto, não ignorou a importância da cidade raiana, a defesa tornou-se uma prioridade se a obra mais significativa neste período foi sem dúvida a obra anexa, a norte da Praça Militar de Elvas, o Forte da Graça outras pequenas obras se inseriram nesse propósito. De facto e assinada a paz com Espanha, a população elvense continuou a ser tributada para as obras de carácter militarizado, não apenas para a manutenção das cortinas, dos fortins adjacentes e dos caminhos de ronda junto à praça, mas também para os primeiros alojamentos militares, os primeiros quartéis eram edificados em 1704, cerca de trinta e seis anos antes das primeiras medidas tomadas pela classe dirigente para a sua construção face ao estacionamento das primeiras forças militares exteriores à mobilização miliciana. Na verdade entre 1668-1704, a guarnição das forças militares ainda longe de constituir um exército nacional tinha dobrado em termos de efectivos, não sabemos exactamente o seu número, mas tal informação está registada em diversas cartas de correspondência entre os Governadores da Praça e a Coroa, a noção de que os efectivos militares aumentaram para além da sua capacidade é datada em cartas registadas para os anos de 1668, 1678,1681, 1685, 1689 e 1702, na última delas à referência que dobrou o número de efectivos, numa época que se verificava a reorganização do exército português no sentido da profissionalização sob orientação do Conde Lippe, um oficial oriundo da tradição germânica que viveu e conheceu as valências da importância da cidade na estratégia e defesa da soberania nacional, como se comprova em algumas das suas reflexões. A verdade é que a questão do alojamento militar só teria resolução efectiva e definitiva após a Revolução Liberal do Porto de 1820. Em meados do século XVIII as dificuldades mantinham-se os quartéis já não alojavam totalmente as forças militarizadas e uma parte dos efectivos desde 1767 tinham morada nas ruas dos Esteiros e Botafogo, enquanto os primeiros-oficiais de carreira sediados em Elvas estavam hospedados em casas particulares, pelo menos desde 1763 ocupavam de uma maneira particular um quarto em casas de particulares na freguesia do Salvador. Esta nova situação causava uma certa ambiguidade na população elvense, enquanto a hospedagem de militares de baixa patente não era muito apreciada ou mesmo não acontecia com os oficiais de carreira, os primeiros desenganos e os primeiros casamentos, era outra realidade que acompanhava o início de uma etapa onde os civis compartilhavam o espaço privado e urbano com os militares, uma das várias causas para a necessidade de um aquartelamento mais amplo que vingará um século depois.