domingo, março 20, 2011

8.1 - Elvas Portuguesa. A organização económica entre o liberalismo e a I República.

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    A diversidade agrícola marcou a paisagem agrícola após a  Revolução Liberal de 1820

   As receitas dos cereais no final da Monarquia Constitucional a riqueza dos arrendatários. 

A prática agrícola foi sem dúvida a actividade fundamental e prioritária ao longo da história de Portugal e que se reflectia de uma forma particular a sul do território nacional, com o predomínio do latifúndio e do absentismo em terras do Alentejo. Todavia nos distritos de Évora, Portalegre e de Beja, algumas décadas após a Revolução Liberal do Porto (1820), as herdades tornaram-se pela sua dimensão e importância económica um modo de exploração económica das novas classes de posse em ascensão pelos menos até ao Estado Novo. Até à Regeneração no distrito de Portalegre a sua extensão média não ultrapassa os 6 hectares, sendo a paisagem agrícola dominada pela exploração do olival, da madeira de sobreiro, da plantação de cereais e de alguns pastos para os gados no complemento da exploração económica da propriedade. Todavia, era na raia norte alentejana, que esta geografia da propriedade era mais visível nos concelhos de Arronches, Elvas e Campo Maior, onde um grupo de agrários e arrendatários viviam directamente deste tipo de exploração económica. O concelho de Elvas constituía sem dúvida, o território mais vasto e importante do ponto de vista económico e agrícola, numa época em que a riqueza do município estava concentrada nas freguesias rurais de Barbacena, S.Vicente e Santa Eulália. Na verdade, os matagais e os arbustos silvestres dominavam a maior extensão das terras de bons solos agrícolas nos  concelhos Arronches e Campo Maior cujo arroteamento ocorre mais tarde do que na segunda cidade portuguesa do distrito. Por outro lado, em Elvas o investimento na exploração agrícola ocorreu mais cedo que nos municípios já citados, uma vez que nas décadas de 1830, 1840 e 1850, muitas das propriedades pertencentes aos Condes de Cadaval e S. Martinho foram objecto de compra ou de aluguer pela imensa rede de arrendatários que também beneficiaram de parte das propriedades da Casa aristocrática do Marquês de Penalva que sendo o único grande proprietário residente jamais alienou o seu património latifundiário durante a centúria de oitocentos. Outro grupo de proprietários com capacidade de exploração e investimento, em solo elvense era sem dúvida um trio de grandes comerciantes lisboetas, como era o caso de António José de Andrade, José Silva Falcão e António Silva Neves Lança Alvim, este originário da vila de Ourém e que acabaria por investir também num conjunto de propriedades situadas nos termos municipais de Arronches e Campo Maior. A maioria dos restantes proprietários do concelho de Elvas em meados do século XIX era arrendatária, apesar de alguns tratados oficialmente por lavradores por fazerem a gestão das terras arrendadas pertencentes a lavradores exteriores ao concelho. Mas, numa análise minuciosa da propriedade, verifica-se que a maior parte dos mesmos, estava directamente depende dos grandes proprietários por contratos de duração com prazos de dez anos, por isso mesmo só na viragem para o século XX e durante o Estado Novo, se revelam como a nova elite agrária em função da posse de uma ou mais herdade. Todavia é de salientar a capacidade de trabalho e de arrojo, que permitiu que uma parte destes arrendatários tenha construído a sua pequena fortuna a partir da introdução de novas culturas agrícolas, da ampliação do espaço agrícola através da limpeza das zonas baldias arrendadas ou de práticas inovadores como os sistemas de drenagem que permitia um melhor aproveitamento da área agrícola. A herdade transformava-se no centro de exploração agrícola em solo elvense a partir do monte, com uma série de edifícios e estruturas de apoio na qual se destacava a casa principal, de resto um modelo resultante e secular desde a romanização da Ibéria. Em meados do século XIX, o monte alentejano, no município de Elvas caracterizava-se pela presença da casa agrícola no extremo das herdades e na parte mais alta da propriedade ou seja edificada sobre uma colina, como forma de controlo sobre o espaço agrícola e dos pastos circundantes.