sábado, julho 30, 2011

9.1. Elvas Portuguesa: O fim do século e o advento da I República




Júlio de Alcântara Botelho foi o primeira figura local a hastear a bandeira republicana (figura ímpar da vida política local - rico proprietário de origem nobre,  foi liberal, republicano e sidonista mas destacou-se pela sua humanidade e solidariedade com os mais necessitados ).


Regulamento da Loja da Emancipação, in António Ventura (A Maçonaria - no distrito de Portalegre), p.96 




Galeria dos antigos Paços do Concelho de onde se deram as primeiras " Vivas à República"

O século xx , quando se inicia em Elvas , a classe dirigente da cidade está em plena transição , uma nova era marcaria a primeira década do século , em termos de novos valores quer ainda em termos de organização e estratégia política . Na vida política,  Eusébio Nunes da Silva , o velho chefe do Partido Progressista , ainda inicia a nova centúria como Presidente da Câmara (1900-1902), mas é fundamentalmente um homem do século passado , tal como o seu antigo rival Dr. José Tierno da Silva . A nível da organização política , pelo menos atá à Presidência de David Nunes da Silva (1902-1905 , continuava ter como base estratégica política a sua família aparentada , reforçada com a integração da família Tierno e com o apoio tradicional dos comerciantes da cidade , no entanto a meio da década novos valores se foram afirmando , o Dr.António Santos Cidraes liberal por convicção destaca-se dos demais , pela sua palavra fácil e vibrante . Mas é a chegada do seu companheiro político e amigo Doutor Ruy de Andrade , que representa a entrada dos lavradores nas disputas pela liderança da Câmara de Elvas , constituindo a partir de então em termos sociológicos e políticos , uma  nova força política de facto e não aparente se tivermos em consideração os filiados e dirigentes políticos da cidade do princípio do século. A ascensão da classe dos lavradores , que triunfa sobre a dos comerciantes no final do século XIX numa sociedade estritamente rural , não se justifica apenas pela posse da terra , mas também pela formação académica que distingue os novos lavradores como os Drs. Ruy de Andrade , António dos Santos Cidraes e João Pinto Bagulho, cuja vida política em nome de Elvas manifestava-se directamente na acção da Câmara ou dos partidos a que pertenciam nomeadamente o Regenerador Liberal e a Concentração Liberal .A nível local a primeira década do século seria marcada por uma acção política morna , longe da intriga  que foi característica no fim do século passado onde os Nunes da Silva e os Tiernos procuravam dominar a liderança do Partido Progressista e simultaneamente disputavam a Câmara . Porém as tensões políticas entre monárquicos e republicanos , no fim da primeira década do século voltavam a animar , depois de um periodo ( 1900-1908 ) de paz ou de indiferença : “ tem trazido a separação de rivalidades , mesquinhas e ambições desmedidas (...) sendo Elvas a mais importante povoação “  . Ao contrário do Séc . XIX , os jornais tinham adpatado uma postura menos política , menos revindicativa e estavam praticamente controlados pelos monárquicos . Assim a aderência às causas republicanas faz-se tardiamente já a República estava implantada , o Correio Elvense só o fez em 1911 e os jornais seus concorrentes tinham desaparecido . O Elvense desaparecera em 1904 para reaparecer mais tarde , O Notícias de Elvas em 1906 e O Liberal estava prestes a desaparecer mas continuava a ter a crença no Liberalismo e a questão republicana nada dizia aos seus mentores que faziam sempre das visitas régias um acontecimento ímpar nas folhas do seu periódico . Bem longe estavam os homens dos jornais da primeira imprensa republicana que deixavam na ponta dos seus escritos a virtude do sistema republicano , como se lê na Democracia e na democracia Pacífica. Assim a palavra seria o modo do processo de difusão do ideal republicano em Elvas , a partir da Comissão Municipal Republicana , constituída em 12 de Março de 1908 do qual faziam parte : Presidente – Júlio de Alcântara Botelho; vogais: Mathias Florêncio e José Joaquim Príncipe, Secretário, Andreia Nunes Calado Cavalo e Tesoureiro: Jaime Artur Ferreira Marques, na prática esta comissão republicana não era mais nem menos que a loja maçónica “Emancipação nº 347 fundada em Elvas a 22 de Junho de 1911). Contudo as palavras de ordem da república, não chegavam à maioria da população adversa indiferente aos movimentos republicanos e monárquicos , que se organizavam e se constituíam , todavia as facções sociais mais endinheiradas ou com formação académica , ao contrário da passavidade popular revelava-se activista , predominando sobretudo a discussão do sistema mais do que o regime , ainda que no início do século os valores liberais fossem os ideais cultivados por essa elite que tanto dignificou a cidade de Elvas. O fim da década abanava as estruturas do regime monárquico , em Elvas a aristocracia de sangue praticamente tinham desaparecido , os Pessanhas e os marqueses de Alegrete , eram as únicas famílias , monárquicas com ligação e reconhecimento real as restantes, também poucas, com títulos resultavam de uma processo de nobilitação e não de uma linhagem aristocrática mas do enriquecimento que permitiu a compra de tais títulos. Os republicanos cada vez mais acreditavam no fim do regime , isso mesmo diria o Dr. António José de Almeida , no Salão que se situava na rua Nova da Vedoria , quando convidado por Júlio Botelho , entusiasta e responsável pela organização republicana em Elvas apesar de nobre por nascimento . Mas já um ano antes (1908) o Dr.Benardino Machado , tinha deixado essa mensagem , perante o entusiasmo de um jovem galante , Dr.João Camoesas que perante a presença das senhoras de Elvas , dava “ Vivas às damas de Elvas “ para de seguida dar “Vivas à República “ facto que se regista pela primeira vez publicamente em Elvas , em consequência lia-se na folha periódica local : “ Sente-se já ; embora ainda não se veja , qualquer coisa de novo , que no nosso mundo político vae em breve aparecer “.
E assim, o tempo da Monarquia esgotava-se na manhã de 5 de Outubro de 1910 , mas só pela tarde , pelas 17.00 horas , a bandeira republicana era hasteada no quartel general. Nos Paços do Concelho , começava a grande festa popular e cabia ao republicano mais activo de Elvas o içar da bandeira do novo regime , Júlio Botelho segindo-se o uso da palavra por José Barroso , José Lopes e Dr.João Camoesas que aconselha perante a euforia da população “ ordem e serenidade “ , a revolução descia à cidade , percorrendo as ruas da Cadeia , Carreira , Olivença , Alcamin , voltando à rua da Cadeia , não faltando a banda dos Caçadores nº4 e Dr. João Camoesas que se associando , ao entus iasmo popular , continuava a pedir ordem e sossego , saudando os heróis de Lisboa. Os destinos de Elvas, estavam agora entregues a Comissão Republicana de Elvas em 5 de Outubro de 1910 ou mais exactamente à já referida Loja Maçónica da Emancipação na pessoa do seu Presidente: José Júlio de Alcântara e dos vários administradores do Conselho segunda figura do distrito (os dois últimos administradores pertenciam a outra loja maçónica elvense o  Triângulo nº262) e que foram recrutados nos meios intelectuais, económicos e militares da cidade, uma tradição que vinha dos tempos da Loja da Liberalidade, como eram os casos : Raul Carlos da Silva Rebelo ( administrador em 1916) , José Dias Barroso (administrador em 1919 durante o Sidonismo) , do Tenente José Jácome de Santana e Silva ( administrador em 1919) e de Augusto António Camoesas ( administrador em 1924 até ao fim do regime). Entretanto a república chegava ás populações rurais e  era Vila Fernando  a primeira a aderir , em 12 de Outubro de 1910 e era  Padre Marques Serrão que fazia  ahistória na revolução , dizendo ao povo que agora é soberano e não está sujeito à mais leve pressão política e o que os republicanos pedem é apenas uma paz duradora . As palavras de ordem alimentam o discurso dos republicanos elvenses , o Dr. João Camoesas explica a queda da monarquia em quatro palavras “ a fraude , a corrupção , despotismo e o saque “ em 12 de Novembro de 1910 anuncia a realização das primeiras eleições livres deixando recado para “ os caciques que devem ficar calmos que vamos cumprir “ .Os meses do fim da primeira década do século , ficaram marcados pela palavra republicana , que se ouve nas comemorações republicanas , que têm lugar por todo o concelho de Elvas e pelas adesões dos lavradores , comerciantes , jornalistas, militares , funcionários públicos , farmacêuticos, escriturários , que engrossa , surpeendentemente as fileiras do Partido Republicano de Elvas , onde não faltam os Liberais e Monárquicos , do antes da revolução . O ano não terminaria sem a primeira greve que se fez em Elvas , a dos Ganhões , que revindicavam mais salário e menos tempo de trabalho . Eram os lavradores em movimento que ouviam com atenção nas reuniões nocturnas que tinham lugar no Sindicato Agrícola de Elvas , sob a palavra do Dr. João Camoesas , José Barroso e Custódio Lobo , que os orientava para as suas pretensões .



sexta-feira, julho 22, 2011

9.1. Elvas Portuguesa. A difusão da imprensa republicana e a lealdade popular ao Rei e à Monarquia

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Os militares abafaram a Revolta de Badajoz de 1883 e a cidade de Elvas foi o 1º destino para os exilados

A Maçonaria voltava a constituir-se na cidade de Elvas no contexto da ofensiva republicana 



A família real portuguesa visitaria a cidade de Elvas pela última vez em 11 de Janeiro de 1906

As décadas de 1870 e 1880, marcam o aparecimento de uma imprensa política mais representativa, por vezes os jornais como Alto Alentejo (1874), surgem como folhas independentes que se tornam republicanas, o mesmo acontece com a proliferação dos jornais monárquicos, estes conservem mesmo o estatuto de independentes mas na prática fazem a apologia do Rei e da Monarquia. Mas numa análise cuidada da imprensa com tendência monárquica, observa-se que os temas nacionais não são objecto de grande debate, mas sim as questões centradas na luta pelo poder local, que envolvia os Progressistas sempre na ofensiva, os Regeneradores e os Históricos, que apenas tinham em comum a apologia e a defesa da monarquia. Era um tempo em que a divisão reinava no seio dos monárquicos, os Progressistas tinham dois jornais que correspondiam a duas tendências locais e individualizadas nas personagens de Eusébio Nunes da Silva e no Dr. João Henriques Tierno e a forma de actuação política era demasiado incipiente e à margem da militância política que de caracterizava já a forma de actuação política por exemplo do Partido Progressista em Portugal. Mas em Elvas, o mesmo partido era ainda elitista e mais próximo da forma de organização dos Regeneradores pelo seu pendor aristocrático, todavia não era a questão social que unia os progressistas de Elvas mas os interesses económicos, de uma meia dúzia de comerciantes e de alguns rendeiros/lavradores “ Os agrupamentos políticos em Elvas , que não regulam pelo número de sujeitos que se podem permitir a honra de receber em sua casa meia dúzia de parentes e amigos, arvorando-se logo alí chefe de uma nação ” . Ao contrária a unidade republicana, era evidente “ A Folha Nova de Lisboa” circulava em Elvas com a mesma pujança das folhas de monárquica, propagando os ideais republicanos e defendendo o regime republicano , ao mesmo tempo que o Centro Republicano de Elvas constitui-se e fazia editar o Correio de Elvas (1889) , assim e no fim da década , clandestinamente ou não a República tornava-se um desejo ardente de uma vasta camada da população da Praça Militar de Elvas , que reunia populares , militares , professores , tipógrafos e alguns comerciantes de posse . Contudo o povo de Elvas manifestava-se indiferente a estas lutas entre os grupos privilegiados ou mais esclarecidos da cidade, mas acreditavam na soberania da Nação e do seu Rei … mas seria a Revolução republicana de Badajoz de 1883, a tornar a ideia de república como elemento libertador nas ruas da cidade mas sem influência na propagação dos ideais republicanos no povo de Elvas que recebeu os revoltosos com humanismo apesar da sua lealdade à “Monarquia Lusitana”. De facto, o insucesso dos revoltosos liderados pelo coronel de cavalaria Serafim Veja no dia 3 de Agosto de 1883, determinou a sua fuga em direcção a Elvas e a folha elvense republicana “Sentinela da Fronteira” exortava a população: “Elvenses! Já o sabeis, em virtude de uma revolução malograda, entram nas vossas muralhas centenas de homens, que como vês, tem pais para respeitar, mães a quem dedicar os extremos afectos (…) abraçai-os, dá-lhes o que puderdes, sobretudo hospitalidade …O número de famílias de famílias que têm vindo visitar e despedir-se dos emigrados é imenso (…). Ao saírem da praça desta praça vimos muitas mulheres lamentando a falta dos seus maridos chorando pela ausência dos seus pais …” No dia 9 de Setembro os revoltosos da guarnição de Badajoz abandonavam a Praça Militar de Elvas, disfarçados de vestuário civil doado pelo povo de Elvas e sob controlo e vigilância do Regimento da Infantaria nº4, a caminho do porto de Lisboa e do exílio que para muitos era então a França revolucionário e dessa época registava-se quatro anos depois o agradecimento do Professor Raimundo Porres com a seguinte expressão : “O povo português é bom e generoso, e esse acolhe-o fraternalmente, mas se o povo é bom, o governo é mau… ” .A década de 1890 seria marcada por uma tentativa de intensificação da campanha republicana, clandestinamente ou não, o tema da república desceu ao à rua e aos pontos de encontro da sociedade Elvense , O Centenário de Camões (1880) passou despercebido como forma de divulgação da causa republicana. Mas a questão do Ultimato Inglês (1890) e a Revolta do 31 de Janeiro de 1891 , tiveram o mesmo impacto que por todo o País se sentiu , no caso do Ultimato , a subscrição pública levado cabo pelos republicanos para a compra de um cruzador foi acolhida com entusiasmo e patriotismo , não significando porém uma mais valia para as hostes republicanas , de facto o 31 de Janeiro de 1891 , não foi recebido com entusiasmo pelos Elvenses que ficaram incrédulos pelo facto dos republicanos pegarem nas armas para depor o Rei , o que mostra que a intensificação da propaganda republicana não tinha causado ainda o mesmo impacto que se vivia noutras zonas do País , o que se compreende numa cidade fechada , controlada militarmente e com uma elite pensante à dimensão da roda dos amigos dos espaços de privilégio da palavra escrita e oral , várias vezes referidos. Sobre estes dois acontecimentos, o Correio Elvense, considerado independente na época, é um testemunho do comportamento colectivo da população . Sobre o Ultimato “ O movimento patriótico não pára afirma-se cada vez mais forte , mais imperioso , mais dominador . A dor que sofremos com a bofetada inglesa em vez de se amortecer com o tempo aparece que aumenta de intensidade e o movimento alastra ... ” Em relação ao 31 de janeiro de 1891 “ Repugna-nos o facto de vermos militares utilizarem as armas destinadas à defesa da pátria em beneficio das suas crenças, pessoas querendo assim impor a força das ideias que julgam preferíveis".É pois neste desencontro entre o ser monárquico ou republicano ou mesmo independente ou indiferente, que se percorre a última década do século onde os sinais de mudança por vezes pressentiam-se, com a atitudes conspirativas como a tentativa de constituição da Loja dos Triângulos em 1893 que juntava comerciantes (negociantes) e outras profissões de matriz liberal e operária.

quinta-feira, julho 21, 2011

Dia histórico para a exploração espacial...


Dia histórico em Cabo de Canaveral com a aterragem  ao amanhecer (10h57m hora de Portugal) do vaivém Atlantis no Centro Espacial Kennedy na Fórida, após 30 anos de viagens para 135 missões. Esta última missão que durou 13 dias e consagrou os astronautas, Chris Ferguson, Doug Hurley, Magnus D. Sandy e Rex Walheim, como os últimos tripulantes da Atlantis que será exposta brevemente num Museu norte-americano. A decisão de acabar com o projecto do vaivém espacial, foi feita há sete anos, quase um ano depois da tragédia do Columbia. A mesma não foi bem acolhida nos meios dos projectos espaciais norte-americanos, Neil Amstrong o astronauta lendário o primeiro humano a se deslocar é uma das várias personalidades que tomaram uma posição crítica relativamente ao fim de tal projecto. A questão financeira  foi outra das razões para o fim do programa do “ Space Shutle” ... mas o projecto para chegar a Marte em 2030 mantêm-se.

quarta-feira, julho 20, 2011

Referenciado o primeiro Ícone de São Paulo ?....



As mais antigas imagens dos Apóstolos, provavelmente datadas do séc .IV, foram objecto de descoberta, segundo o arqueólogo Fabrizio Bisconti, que dirige a campanha arqueológica nas Catacumbas de Santa Tecla. Foi encontrado a mais antiga representação de São Paulo, que jamais tinha sido identificada sob a forma de ícone, esta figura bíblica e mais quatro encontradas (uma delas é provavelmente São Pedro), encontravam-se num cubículo que foi objecto de restauração decorativa a laser. Esta obra decorativa foi encomendada por um nobre durante o período do Império Romano Tardio e a sua identificação segundo o Doutor Bisconti foi feita a partir de algumas representações dos Apóstolos em Ravena e acrescenta que as obra apesar de não ter sido executada por um grande pintor não deixa de ser uma descoberta arqueológica para a História da Arte e em especial para o conhecimento da pintura romana. Este cubículo que está integrado num estrutura arqueológica, seguindo o modelo de representação das absides das basílicas romanas era coberto por vigas e placas de ouro

terça-feira, julho 19, 2011

9.1. Elvas Contemporânea : - A difusão das ideias republicanas na imprensa elvense - nas décadas de 1860 e 1870.

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A primeira folha partidária republicana do Centro Republicano de Elvas


António Torres de Carvalho,  proprietário tipográfico e editor das principais folhas republicanas.


Se a vida política em Elvas até ao fimal da Regeneração foi um feudo do Partido Progressista, na década de 1860, surgiam as primeiras ideias que faziam a apologia da causa republicana. Não se tratava então de um movimento organizado mas de um conjunto de personalidades que nos periódicos da cidade reflectiam sobre o futuro do sistema político em Portugal. De facto, na década de sessenta ainda as folhas periódicas de Elvas, davam os primeiros passos, surgiam à luz do dia a primeira folha republicana, a “Democracia Pacífica (1866)”, que se tornava através da palavra escrita, numa voz incómoda, pela forma ofensiva e radical com que analisava a monarquia e os partidos políticos que a apoiavam. Um pouco mais tarde seria “A Democracia (1869) ”, que resultava da cisão de alguns elementos fundamentais que constituíam a folha republicana anteriormente citada, continuava de forma mais moderada a denunciar o regime monárquico como a causadora de todos os males nacionais. Mas os poucos republicanos, na verdade não estavam sós e se a imprensa monárquica só se torna eficaz na década de oitenta, o certo é que nos clubes, os militares, a quase rara aristocracia e a maioria dos proprietários agrícolas, tratavam de pôr em causa o pensamento republicano e o seu conceito de propriedade, de tal forma que os homens da imprensa respondiam aos debates nocturnos nos clubes e nas casernas militares . “ ... É disvirtuado e caluniado com tanta insistência o systema republicano pelos parasitas que vegetam à sombra da instituição monárchica ...." . E a pedagogia favorável o novo sistema era também proclamada pelos tipógrafos e colaboradores da Democracia Pacífica “A república aceita em princípio o direito de propriedade. Repelir esse direito , fora proscrever a civilização, proclamar a selvajaria . A propriedade é um mal que produz bens imensos ou bens sujeitos a originar profundos males. Obviar quanto possível os males (....) ” era uma finalidade dos republicanos. Porém a década de 1860 , marca os primeiros escritos de uma imprensa inconformada com o regime , a Democracia Pacífica é a única voz republicana que através dos escritos de João Francisco Dubraz ( republicano e socialista ) denunciava por vezes com a violência das palavras a centralização da classe política de Lisboa , censurava a mesma e propunha a sua substituição e que fosse o monarca a dar esse passo . Aliás a incapacidade governativa como consequência do regime monárquico, era um o tema central desta pioneira folha republicana : “ Triunfa a desmoralização! Podem estar satisfeitos . Junto do Trono , no governo , na administração , na magistratura , no exército , no tesouro , no parlamento , estão bem tangíveis as causas d dessa decadência moral , que em breve oprimirá também a terra , a propriedade , o trabalho e a vida material da nação “. Contudo se a conjuntura política , constitui um dos fundamentos da campanha das hostes republicanas , uma outra ganhava expressão nas folhas de Elvas , a do alargamento da instrução pública .... tratava-se de garantir os meios necessários para a sobrevivência dos próprios jornais que necessitavam de leitores e sendo ao mesmo tempo um meio eficaz para o combate ao analfabetismo popular e como tal mais um argumento para a difusão do ideário republicano . Mas a década de sessenta foi apenas um mero ensaio de um incipiente movimento republicano que se tornaria mais consistente na década de 1870 e sobretudo 1880. Nesta perspectiva podemos indicar os elementos de matriz republicana que surgiam nas folhas de Elvas em especial na Democracia Pacífica na década de 1860 : - a ) Definição de conceito de república , sindicalismo e anarquismo; b ) Explicação do funcionamento do regime socialista ; c ) Necessidade da proclamação do regime republicano; d ) Defesa da instrução e da moral como elementos determinantes para que os cidadãos tivessem consciência dos seus direitos e obrigações . e ) Apologia do regime democrático , como se observa “ A democracia na actualidade , não e somente uma ardente aspiração , não é um desejo indefinível , não é uma visão que se recorta ao longe , no plano de um horizonte longínquo . A democracia é a expressão um facto - é uma realidade . A democracia é a expressão d ´este século - é o credo da humanidade” . ( Continua)

quinta-feira, julho 14, 2011

9.1- Elvas Contemporânea. As limitações do poder local na época da Monarquia Constitucional

A iluminação pública  um dos credos do Partido Progressista nos fins do séc. XIX



As fontes do Aqueduto algumas delas do séc. XIX edificadas no âmbito da saúde pública.


    Os Caminhos e as estradas foram objecto de negociação dos políticos locais durante as campanhas eleitorais
Na vida política local, a política dos Regeneradores e dos Progressistas, foram desde sempre limitadas pelo poder Central de facto os ventos de mudança proporcionados pela Revolução Liberal do Porto, pouco impacto tiveram no poder local. Por isso mesmo, o recurso à banca para a execução de obras públicas a nível local foi uma prática constante a que a classe política oitocentista acabou por recorrer sempre que se tratava de uma obra de vulto e de interesse público. Por outro lado e através de um estudo exaustivo das actas de Câmara Municipal de Elvas durante a segunda metade do séc. XIX, chegamos à conclusão que as decisões de interesse público, como as obras públicas correspondiam a cerca de 4.4% da execução da prática política. (Actividade municipal: Deliberações e ofícios (46.6%); requerimentos (26.4%); fixação de preços (13.6 %) e obras públicas (4.4%). Estas limitações do poder executivo local, implicava o aproveitamento da presença de figuras dos partidos nacionais em Elvas, em tempo de campanha eleitoral para eleições legislativos. Nesta perspectiva os progressistas elvenses que dominavam a câmara procuravam que os futuros deputados se comprometessem com as necessidades locais em troca do voto da população e sobretudo dos seus apoiantes. Por outro lado, o modelo do sistema político administrativo era fortemente centralista, definido pelo Código Cabralista de 1842 que vigorou até 1878 e que permitiu que a figura central dos poderes locais, estivesse dependente da figura do Governo Civil do Distrito, a identidade que aprovava ou não, as verbas necessárias para o desenvolvimento e progresso da vida municipal. Estas realidades não eram indiferentes aos Elvenses a imprensa periódica tornou-se uma voz de denuncia em nome da descentralização, procurando explicar junto dos seus eleitores as vantagens do poder local, no Transtagno encontramos vários exemplos “O que é a descentralização? É a significação em todos os ramos da administração pública. É a igualdade de direitos entre o capital e a província. É a abolição dos vínculos. É melhorar por todos os modos a instrução pública. É a formação dos bancos de crédito para favorecer a agricultura”. O certo é que o centralismo não deixou de ser uma realidade evidente, como se observa pela leitura de uma acta de Câmara: “ A autonomia da câmara municipal tem nos últimos anos sofridos golpes profundos que se continua avançando este sistema de centralização que desde mil oitocentos e oitenta e seis mais se acentua dia a dia…”. Em termos de concretização prática, a pesar de tudo alguns avanços ocorreram por acção do poder local: na construção de caminhos, na agricultura (algumas ajudas no aproveitamento das terras baldias) a assistência social, na instrução (as primeiras iniciativas de escolarização dirigidas ainda a uma parte restrita da população urbana do concelho) ou as preocupações com a salubridade (a utilização tímida da água como prática de higiena e consequência das diferentes vagas de cólera morbos que se  conheceram século XIX), hoje diríamos com a saúde pública. … marcaram as iniciativas correntes desde à vereação de Joaquim da Cunha Osório (1852) até ao fim do século, quando o líder dos Progressistas locais, Eusébio Nunes da Silva, era não só uma figura impar na vida local mas também imbatível. Todavia algumas obras públicas  marcaram de forma notável a geração de oitocentos, como a reparação do Aqueduto das Amoreiras, após um relatório detalhado feito em 28 de Março de 1899 para o município de Elvas pelo prestigiado engenheiro de obras públicas de Nery Delgado, em que aconselhava com  urgência “… o concerto e reparação indispensável de que muito carece o nosso aqueduto”. De resto, várias fontes foram construídas como obras anexas ao aqueduto e no contexto da política de salubridade  minicipal,  poderemos mesmo afirmar que os principais presidentes de câmara durante o seu mandato fizeram a sua fonte, senão vejamos, o Marechal António Joaquim da Gama Lobo ( a Fonte dos Filipinos -1855); Ezequiel Cândido Augusto César de Vasconcellos (a fonte do Rossio -1864) ; José Ignacio Pereira (a fonte do Outeiro - 1883) e Eusébio Nunes da Silva – as fontes, Nova (1893) e da Boneca (1894). A construção do Passeio Pública que abria a cidade para o exterior das muralhas e que foi edificado sobre o cemitério público, então considerado como “O mais aprazível sítio de Elvas, que pouco a pouco vai conquistando a celebridade de um passeio de primeira ordem. Sobre o terreno que outrora cobria a sombra densa de álamos e amoreiras, e pó quase nu, estava ligado às ideias fúnebres de um cemitério, que se fundou graças ao bom gosto de uma das últimas municipalidades”.Mas não há dúvidas que a grande questão do fim do século em Elvas foi sem dúvida a iluminação da cidade as primeiras ideias e revindicações de domínio político, datam de 1860 mas em 1870 já eram do domínio público uma causa, como se lia na folha pró -republicana “ A Democracia” : “Elvas está em trevas, à noite parece uma aldeia: não se pode transitar são vultos que não se conhecem uns aos outros. A Câmara deve olhar por isto, mandando fazer a iluminação todas as noites. A economia da luz não tem razão de ser numa cidade como esta”. Contudo, só em 1887 o município chega a uma solução, assinando um  contrato  com a firma prestadora de serviço de Emilio Pisch e António Alves e cinco anos depois eram abandonados os candeeiros a petróleo, mas as críticas não deixaram de surgir e passados mais cinco em 1892, havia quem achasse que “O contrato de iluminação a gás foi realizado num momento de entusiasmo por esse melhoramento, sem que meditassem bem, não nos encargos imediatos que ele resultavam, mas principalmente a prisão que ele representava o futuro, inibindo o município, durante um período longuíssimo de contratar outro sistema de iluminação”. E uma vez mais, Eusébio Nunes da Silva procurou “calar” a oposição e contra tudo e todos, assinou um novo contrato com Victor Redondo, morador em Badajoz para a instalação da electricidade e nesse âmbito, o mesmo  seria válido por 45 anos, mas o centro urbano só conheceria a luz eléctrica na aurora do séc. XX num processo que Elvas liderou e foi pioneiro em todo o Distrito de Portalegre. Em síntese, podemos afirmar que os tempos e os ventos liberais chegaram na segunda metade do séc. XX e se a até a década de 1870, a cidade lutou a par com a capital do distrito, pela liderança do mesmo nas décadas seguintes a cidade procurou romper com o centralismo sem grande sucesso mas tornou-se pioneira do progresso e da inovação,  se Ezequiel Cândido Augusto César de Vasconcellos, José Ignácio Pereira foram dos mais notáveis presidentes câmara da época da Regeneração a verdade é que foi sem dúvida, Eusébio Nunes da Silva e o seu Partido Progressista que preparam a cidade para os desafios do século XX…                      

terça-feira, julho 12, 2011

Mais uma obra de Miguel Angelo a descoberto...


O pintor italiano Marcello Ventusi que no séc. XVI copiou algumas obras de Miguel Ângelo é notícia, não pelo seu talento, mas pelo facto de uma obra a si atribuída foi de facto pintada por Miguel Angelo. De facto, Marcello Ventusi era requisitado frequentemente pela igreja para reproduzir algumas obras do génio do Renascimento, como foi o caso do Cardeal Farnese que pediu em 1500, uma pequena reprodução do grande fresco “O Julgamento Final” que é diariamente visitado por milhares de pessoas na Capela Sistina. O resultado foi considerado excelente e ainda hoje é motivo de referência artística e histórica, estando exposta no Museu de Nápoles. Dizem, os cronistas contemporâneos que essa obra foi aprovada por Miguel Ângelo e que amizade entre ambos manifestou-se por uma cumplicidade artística, de tal modo que “A crucificação com a Virgem e os dois anjos chorando” que durante várias décadas esteve exposto numa residência dos jesuítas na Universidade de Oxford, e atribuída a Marcello Ventusi. Afinal é da autoria de Miguel Ângelo segundo o crítico de arte António Forcellino. Assim a referida obra de arte deverá ser recolhida pelo Museu de Oxford para receber os cuidados e tratamento de acordo pondo igualmente em evidência o talento de Marcello Ventusi na categoria dos génios do Renascimento Italiano

segunda-feira, julho 11, 2011

9.1. Elvas Portuguesa. Os progressistas na monarquia constitucional (1850-1899).


A aristocracia palaciana dominou a política distrital durante a monarquia constitucional


Manifesto da fundação do Partido Progressista em Elvas 


Eusébio Nunes da Silva  dominou a vida política local mas falou (?) o Parlamento ... 

A vida política e institucional na cidade de Elvas só ganha influência e importância no Distrito de Portalegre, a partir da década de 1870, até então os monárquicos elvenses não tinham qualquer protagonismo no contexto regional. De facto, o partido Regenerador e o Histórico, jamais favoreceram a ascensão dos políticos locais na vida regional, com uma única excepção, o Visconde de Alcântara, João José de Alcântara líder do Partido Regenerador, que chegaria a Governador Civil e pertencente ao círculo restrito de amigos de Fontes Pereira de Melo. Por outro lado, as lojas maçónicas influentes na cidade de Portalegre, não foram objecto de recrutamento para a vida  municipal ou regional, uma vez que a maioria desses círculos clandestinos era constituído por militares, a Loja da Liberalidade fundada em 1818 que tinha cerca de vinte um membros, só quatro dos seus membros era recrutados na sociedade civil e entre estes contava-se o Bispo de Elvas, D. Frei Joaquim de Menezes Ataíde, o Governador da Praça militar, o General William Stubbs e o Conde do Bonfim, José Lúcio Travassos de Valdez por ventura o elvense mais notável na época vintista. Por outro, a Loja elvense já estava moribunda durante o liberalismo moderado imposto pelo Cabralismo. Na vida local pontificava Ezequiel Cândido Augusto César Vasconcellos que faria quatro mandatos dominando a vida política nas décadas de 1850 e 1879, mas mantendo a cidade de Elvas fora do jogo político distrital já que a elite aristocrática portalegrense, não abria mão do monopólio dirigista do distrito e se o Visconde de Alcântara foi a excepção, também é verdade que se tratava de um militar da fidalguia local, mas sem a tradição secular das elites portalegrenses. A abertura aos políticos locais, só foi possível com a formação do Partido Progressista, já que o Doutor Frederico Laranjo necessitava de figuras de populares nas suas localidades, para que a nova formação pudesse pontificar em todo o distrito e para tal procurou encontrar figuras de referência em todos aglomerados populacionais do distrito. Neste âmbito, a cidade de Elvas ganhava visibilidade, uma vez que as famílias nobiliárquicas não tinham influência na vida política e a sua presença na vida local era nula e restrita aos seus interesses sociais e económicos. Logo era a nível elite local ainda em formação, da qual  se destacava Eusébio David Nunes da Silva á “cabeça”, um comerciante de Sertã de sucesso, seguido do Dr. João Henriques Tierno, notável e respeitado médico na cidade e do lavrador com maior prestígio na região, Francisco da Silva Lobão Rasquilha. Outros nomes destacavam-se na retaguarda, como João Joaquim Bagulho, que chegara a Elvas na grande vaga da colonização agrícola oitocentista e que se tornara em pouco tempo do principal lavrador de Vila Boim, António Garcia Andrade e David Nunes Silva, em comum os interesses pela exploração agrícola e apoio de uma serie de rendeiros e pequenos proprietários que acabariam por triunfar durante o Estado Novo. A chegada ao parlamento era assim um dos objectivos dos líderes políticos do Partido Progressista Local, uma vez que o Partido Regenerador já por duas vezes tinha colocado o Visconde João José de Alcântara em dois mandatos iniciados respectivamente em 1864 e 1871, todavia aquele ilustre elvense era sobretudo um político de carreira bem visto na capital e mais próximo dos interesses políticos dos regeneradores do que propriamente em se envolver em questões locais. Os primeiros indícios que uma figura de Elvas, poderia chegar ao Parlamento ocorreu nas legislativas de 1879, com o líder dos progressistas, José Luciano a designar Eusébio Nunes da Silva para um dos três círculos de Portalegre, o de Elvas naturalmente, já que Lourenço Cayola de Campo Maior, estava interessado em representar a cidade mais a sul do distrito, mas para os Progressistas a candidatura do comerciante de Elvas era fundamental para acabar com as guerras que se verificavam no interior do partido e ao mesmo tempo um teste aos tradicionais apoiantes do Partido Regenerador que por razões sociais e económicas mantinham relações de proximidade com a família Nunes da Silva. Todavia, apenas o Doutor José Frederico Laranjo seria eleito pelas listas do distrito e a Elvas e Fronteira, não manifestaram qualquer entusiasmo pelo Partido Progressista. Na última década do século, o Partido Progressista tornara-se na maior força partidária no Distrito, nas eleições de 1889 e Elvas apresentava duas figuras ao Parlamento, Eusébio Nunes da Silva e o Dr. João Henriques Tierno. Era uma forma de evitar o confronto entre os dois notáveis do Partido Progressista, porém o Partido Regenerador chegava à vitória e o Doutor Frederico Laranjo, era novamente eleito por Portalegre. Um ano depois novas eleições e Elvas tinha uma oportunidade única de ter finalmente o primeiro deputado progressista eleito, numa época em que a nível local, os progressistas eram igualmente o partido eleitoralmente mais forte. O Doutor Frederico Laranjo, não seria candidato por Portalegre, já que aquele académico procurava conciliar as duas facções progressistas de Elvas lideradas por Eusébio Nunes da Silva e pelo Dr. João Henriques Tierno, que inclusivamente controlavam, cada um, um jornal para se guerrearem. Aliás, já nas eleições de 1886, o líder distrital tinha proposto o lugar de Governador Civil para Eusébio Nunes da Silva e de administrador do Concelho para o Dr .João Henriques Tierno, mas a sua facção jamais aceitaria, tal sugestão não aceitando a nomeação do líder progressista para Governador Civil. Mas, uma vez mais os dois ilustres progressistas de Elvas não se entenderam para as legislativas de 1890 e o Dr. João Tierno Hernriques passou para a oposição, sendo o Conselheiro Frederico Arouca  uma personagem exterior aos interesses de Elvas, indicado como principal figura para representar o distrito no Parlamento, ganhando na cidade mas perdendo em várias localidades do distrito. Definitivamente, a cidade de Elvas perdia a sua influência nos meios políticos do Partido Progressista e na vida política distrital, Eusébio Nunes da Silva, tornava-se uma figura incontornável na vida local eleito presidente da Câmara em 1890 e  a partir de então dominaria toda a década, estendo essa influência à sua família. O Dr. João Tierno continuou a dar a sua opinião política através dos periódicos locais, mas tornava-se uma figura de referência na sociedade local, como médico e em especial da Misericórdia de Elvas até final dos anos vinte. E definitivamente Portalegre ganhava espaço político e institucional a Elvas.

sexta-feira, julho 08, 2011

9. Elvas Portuguesa: a primeira geração da classe política elvense (1850-1930).As características do sistema político partidário.

Prof.Doutor Frederico Laranjo um aliado de Elvas 

Doutor Ruy Andrade líder da facção monárquica



O Palácio da Condessa de Tarouca referência da aristocracia de sangue do distrito. 

O poder das elites locais expressava pelo apoio das camadas populares concelhias.

A revolução liberal do Porto de 1820, rompeu em definitivo com o Liberalismos e novos ideais sopraram, até meados do século onde os partidários do absolutismo e do liberalismo, procuraram em determinados momentos impor as suas pretensões, as crises sucederam-se e as constituições foram sendo adaptadas às diferentes fases do Vintismo. A paz após a guerra civil e a experiência do Liberalismo moderado proposto pelo Cabralismo, permitiu o desenvolvimento do país que acelerou notavelmente durante a Regeneração. E nesta perspectiva, o distrito de Portalegre e a cidade de Elvas, não passaram ao lado das iniciativas governamentais e locais que favoreceram o desenvolvimento regional. Se antes de meados de Oitocentos, o distrito era Regenerador, a partir da segunda metade essa realidade deixou de ser uma evidência e a luta entre Regeneradores e Progressistas foi uma constante até à queda da monarquia constitucional. O rotativismo que caracterizou a vida do país reflectiu-se também em todo o distrito, que por norma seguia a tendência nacional e nesse contexto a influência das cidades de Portalegre e Elvas sobre os restantes núcleos populacionais era evidente e se durante o Cabralismo, Portalegre liderava as grandes questões que “importava” ao distrito. Na época da Regeneração, a classe política elvense ganhava espaço na vida política da região face a ascensão do Partido Progressista, mas também da excelente relação que o Prof. Dr. Frederico Laranjo desenvolvia com os políticos do principal aglomerado urbano da raia do Alto Alentejo. Do ponto vista, político-partidário os partidos oitocentistas a nível regional identificaram-se quase sempre com os grupos sociais dominantes, independentemente do partido, a mesma realidade do Partido Regenerador era transversal ao Progressista e ao Histórico, as forças partidárias dominantes. Em Portalegre, “ berço “ da aristocracia distrital, o partido Regenerador era identificado com uma elite agrária mas destacava-se pelos seus pergaminhos familiares e históricos, assente nos seus títulos aristocráticos. Ou personagens com reconhecido prestígio profissional, cultural e simbólico e com uma influência notável nas vilas a e aldeias situadas a norte da capital do distrito. No caso, de Elvas era a propriedade da terra, que permitia a afirmação de algumas famílias a sul do distrito, de facto e excluindo o Doutor Ruy de Andrade e a família da Condessa de Tarouca (mais conhecida por Menezes) que pertenciam à “primeira” linha da aristocracia nacional, os grandes proprietários elvenses na segunda metade do século XIX tinham na sua origem um vaso grupo de rendeiros, todavia nas décadas de 1878 e 1880, face à “construção” do seu poder fundiário tinham ganho um notável protagonismo e as suas herdades estendiam-se para as Vilas de Arronches e Campo Maior. Em comum entre a primeira geração de políticos de Portalegre e Elvas, era sem dúvida a influência que estas personagens detinham não só nas localidades onde viviam mas também nas terras vizinhas, fruto da expansão das suas propriedades agrícolas. No último quartel do séc. XIX, os médicos ganhavam também um lugar de destaque nestas sociedades agrárias, uma vez que o desenvolvimento da medicina permitia uma maior esperança de vida e como tal ganhavam um estatuto muito próprio nas mesmas. Não é por acaso, que os médicos de sucesso, tornaram-se igualmente grandes proprietários e nessa qualidade tornaram-se líder regionais nomeadamente no seio do Partido Progressista, manos elitista que o Regenerador. A verdade é que nesta época a organização partidária era muito rudimentar “ Os agrupamentos políticos em Elvas, que não regulam pelo número de sujeitos que se podem permitir a honra de receber em sua casa meia dúzia de Parentes e amigos, arvorando-se logo ali chefe d´uma facção”. Mas, os eleitores valorizavam mais as personagens que lideravam os partidos políticos do que os seus programas, que por vezes eram quase inexistentes: “A esmagadora maioria da população não era deste ou daquele partido, era do partido a que pertenciam fulano ou sicrano que dominavam as malhas da influência local, negociando com eles de forma pragmática o seu voto de apoio”. (Continua)