sexta-feira, julho 22, 2011

9.1. Elvas Portuguesa. A difusão da imprensa republicana e a lealdade popular ao Rei e à Monarquia

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Os militares abafaram a Revolta de Badajoz de 1883 e a cidade de Elvas foi o 1º destino para os exilados

A Maçonaria voltava a constituir-se na cidade de Elvas no contexto da ofensiva republicana 



A família real portuguesa visitaria a cidade de Elvas pela última vez em 11 de Janeiro de 1906

As décadas de 1870 e 1880, marcam o aparecimento de uma imprensa política mais representativa, por vezes os jornais como Alto Alentejo (1874), surgem como folhas independentes que se tornam republicanas, o mesmo acontece com a proliferação dos jornais monárquicos, estes conservem mesmo o estatuto de independentes mas na prática fazem a apologia do Rei e da Monarquia. Mas numa análise cuidada da imprensa com tendência monárquica, observa-se que os temas nacionais não são objecto de grande debate, mas sim as questões centradas na luta pelo poder local, que envolvia os Progressistas sempre na ofensiva, os Regeneradores e os Históricos, que apenas tinham em comum a apologia e a defesa da monarquia. Era um tempo em que a divisão reinava no seio dos monárquicos, os Progressistas tinham dois jornais que correspondiam a duas tendências locais e individualizadas nas personagens de Eusébio Nunes da Silva e no Dr. João Henriques Tierno e a forma de actuação política era demasiado incipiente e à margem da militância política que de caracterizava já a forma de actuação política por exemplo do Partido Progressista em Portugal. Mas em Elvas, o mesmo partido era ainda elitista e mais próximo da forma de organização dos Regeneradores pelo seu pendor aristocrático, todavia não era a questão social que unia os progressistas de Elvas mas os interesses económicos, de uma meia dúzia de comerciantes e de alguns rendeiros/lavradores “ Os agrupamentos políticos em Elvas , que não regulam pelo número de sujeitos que se podem permitir a honra de receber em sua casa meia dúzia de parentes e amigos, arvorando-se logo alí chefe de uma nação ” . Ao contrária a unidade republicana, era evidente “ A Folha Nova de Lisboa” circulava em Elvas com a mesma pujança das folhas de monárquica, propagando os ideais republicanos e defendendo o regime republicano , ao mesmo tempo que o Centro Republicano de Elvas constitui-se e fazia editar o Correio de Elvas (1889) , assim e no fim da década , clandestinamente ou não a República tornava-se um desejo ardente de uma vasta camada da população da Praça Militar de Elvas , que reunia populares , militares , professores , tipógrafos e alguns comerciantes de posse . Contudo o povo de Elvas manifestava-se indiferente a estas lutas entre os grupos privilegiados ou mais esclarecidos da cidade, mas acreditavam na soberania da Nação e do seu Rei … mas seria a Revolução republicana de Badajoz de 1883, a tornar a ideia de república como elemento libertador nas ruas da cidade mas sem influência na propagação dos ideais republicanos no povo de Elvas que recebeu os revoltosos com humanismo apesar da sua lealdade à “Monarquia Lusitana”. De facto, o insucesso dos revoltosos liderados pelo coronel de cavalaria Serafim Veja no dia 3 de Agosto de 1883, determinou a sua fuga em direcção a Elvas e a folha elvense republicana “Sentinela da Fronteira” exortava a população: “Elvenses! Já o sabeis, em virtude de uma revolução malograda, entram nas vossas muralhas centenas de homens, que como vês, tem pais para respeitar, mães a quem dedicar os extremos afectos (…) abraçai-os, dá-lhes o que puderdes, sobretudo hospitalidade …O número de famílias de famílias que têm vindo visitar e despedir-se dos emigrados é imenso (…). Ao saírem da praça desta praça vimos muitas mulheres lamentando a falta dos seus maridos chorando pela ausência dos seus pais …” No dia 9 de Setembro os revoltosos da guarnição de Badajoz abandonavam a Praça Militar de Elvas, disfarçados de vestuário civil doado pelo povo de Elvas e sob controlo e vigilância do Regimento da Infantaria nº4, a caminho do porto de Lisboa e do exílio que para muitos era então a França revolucionário e dessa época registava-se quatro anos depois o agradecimento do Professor Raimundo Porres com a seguinte expressão : “O povo português é bom e generoso, e esse acolhe-o fraternalmente, mas se o povo é bom, o governo é mau… ” .A década de 1890 seria marcada por uma tentativa de intensificação da campanha republicana, clandestinamente ou não, o tema da república desceu ao à rua e aos pontos de encontro da sociedade Elvense , O Centenário de Camões (1880) passou despercebido como forma de divulgação da causa republicana. Mas a questão do Ultimato Inglês (1890) e a Revolta do 31 de Janeiro de 1891 , tiveram o mesmo impacto que por todo o País se sentiu , no caso do Ultimato , a subscrição pública levado cabo pelos republicanos para a compra de um cruzador foi acolhida com entusiasmo e patriotismo , não significando porém uma mais valia para as hostes republicanas , de facto o 31 de Janeiro de 1891 , não foi recebido com entusiasmo pelos Elvenses que ficaram incrédulos pelo facto dos republicanos pegarem nas armas para depor o Rei , o que mostra que a intensificação da propaganda republicana não tinha causado ainda o mesmo impacto que se vivia noutras zonas do País , o que se compreende numa cidade fechada , controlada militarmente e com uma elite pensante à dimensão da roda dos amigos dos espaços de privilégio da palavra escrita e oral , várias vezes referidos. Sobre estes dois acontecimentos, o Correio Elvense, considerado independente na época, é um testemunho do comportamento colectivo da população . Sobre o Ultimato “ O movimento patriótico não pára afirma-se cada vez mais forte , mais imperioso , mais dominador . A dor que sofremos com a bofetada inglesa em vez de se amortecer com o tempo aparece que aumenta de intensidade e o movimento alastra ... ” Em relação ao 31 de janeiro de 1891 “ Repugna-nos o facto de vermos militares utilizarem as armas destinadas à defesa da pátria em beneficio das suas crenças, pessoas querendo assim impor a força das ideias que julgam preferíveis".É pois neste desencontro entre o ser monárquico ou republicano ou mesmo independente ou indiferente, que se percorre a última década do século onde os sinais de mudança por vezes pressentiam-se, com a atitudes conspirativas como a tentativa de constituição da Loja dos Triângulos em 1893 que juntava comerciantes (negociantes) e outras profissões de matriz liberal e operária.