sexta-feira, março 30, 2012

14.1. - O fim do Estado Novo ...



José Vicente de Abreu - marcou uma época num período de dificuldades para o Poder Local.

Os simblogia do Estado Novo na Praça da República ( in Grupo Elvas em Fotos)


As novos equipamentos anunciavam as necessidades de uma classe média em embrião 
(foto de Jacinto César)


O regime caminhava para o fim … mas em Elvas vivia-se na esperança de um relativo progresso, a aposta era José Vicente de Abreu, figura simpática, correcto e de trato agradável, cuja acção se distinguiria como Presidente do município e mais tarde como deputado da Nação. Na verdade seria na Assembleia Nacional, que o seu carisma político se afirmava, em torno das causas de Elvas de uma forma indiscutível, defendendo a implantação de uma zona de regadio e de um Liceu Nacional, como de uma cidade capital se tratasse. A nível local, seria a primeira personalidade a defender a criação de uma zona especial de Turismo, que considerava uma das condições determinantes para o futuro da cidade. Da sua obra e influência, destaca-se a criação de uma série de equipamentos que permitiram a valorização da cidade raiana, das quais destacamos: a Maternidade, o Tribunal, a instalação da Estação de Olivicultura, o Bairro das Caixas a primeira obra de matriz social no âmbito do estado providência … outras eram esperadas numa época em que a cidade era conhecida pela sua fidelidade ao Estado Novo e como tal o regime não lhe era adverso … mas a morte inesperada, inoportuna e trágica, de José Vicente de Abreu num acidente aéreo na Guiné na companhia de outra figura da Ala Liberal, Dr. Pinto Leite … terminou com este período de pleno desenvolvimento, o município de Elvas, marcava passo, até final do Estado Novo, face aos limitados e quase inexistentes orçamentos de um poder político centralista, em crise e com uma guerra interminável que sugava os dinheiros públicos. Algumas obras de vulto, hoje consideradas pequenas, como a electrificação da Calçadinha, rompiam com o imobilismo os poderes políticos, numa época em que o comércio e a cidade tinham alguma dinâmica face ao crescimento do funcionamento púbico, ao estacionamento de vários batalhões do exército português e alargamento dos chamados “remediados” uma espécie de embrião da futura classe média. A mudança aproximava-se na Primavera de 1974 … o dia 24 de Abril caminhava para o fim, faltavam cinco minutos para as vinte e trinta minutos, o som da rádio nacional mais ouvida, era interrompida com uma canção censurada “Grândola Vila Morena”. De prevenção há algumas horas, as forças militares compostas em quatro zonas de comando (Lisboa e sectores: Norte, Centro e Sul) iniciavam o primeiro Golpe de Estado Militar bem sucedido após o 25 de Maio de 1926 que tinha como objectivo a capital, no plano geral das operações o Major Otelo Saraiva de Carvalho deixava bem claro que considerava “ a cidade de Lisboa como fulcro de toda a acção, visto que é nela que se concentram os poderes legais e os objectivos remuneradores para o cumprimento da missão e das missões consequentes”. Pela manhã, as notícias eram conhecidas em Elvas, com entusiasmo e ao mesmo tempo com apreensão, a rádio nacional era o meio privilegiado com notícias como esta: “As forças armadas desencadearam, na madrugada de hoje uma série de acções com vista à libertação do regime que há longo tempo domina”. Mas a noite seria longa e histórica, para dois elvenses que participaram nesta aventura pela democracia, José Manuel Carapinha brilha e Martinho José Coelho de Jesus, que faziam parte da coluna militar do  RPC, liderados pelo capitão Salgueiro Maia, que de Santarém partiram para a capital na madrugada, ocupando o Terreiro do Paço, subindo ao Carmo onde aceitaram a demissão do Presidente do Conselho, o  Prof. Dr. Marcelo Caetano. Aos poucos o Movimento empreendido pelas Forças Armadas, chegava a Elvas, a cidade tornava-se movimentada e patrulhada por inúmeras viaturas militarizadas, entre elas os Jipes da era dos aliados do pós II Guerra Mundial, o tempo corria depressa e as vozes da liberdade faziam-se sentir um pouco por todo o lado, onde a esperança e a apreensão eram sentimentos próprios de quem não podia entender o que se passava. O fim das estruturas do regime de repressão e censura, situadas na Praça (PIDE-DGS) e Largo de S. Domingos (Legião) denunciavam a mudança que alcançava o ponto mais alto nos comícios do 1º de Maio e em Elvas a dimensão da festa era complementada pela intervenção de vários oradores, alguns dos quais ficariam ligados ao processo de consolidação do poder local em Elvas.