sábado, dezembro 22, 2012

Max Roemer um pintor germânico que fez da sua obra um culto a cultura madeirense ....

As ruas e as travessas ... uma constante na sua obra.


A Corsa um veículo de tracção por excelência até meados do século XX


A rede um meio de transporte senhorial e popular conforma as épocas e as circunstâncias


O Carro de bois um ícone do turismo madeirense até ao último terço do séc.XX ?...




Max Wilhelm Roemer, nasceu em Hamburgo a 22 de Novembro de 1878 e foi baptizado na igreja luterana de São Jacob, com cerca de uma ano e um mês no dia de Natal de 1879. A 24 de Maio de 1902, contraiu matrimónio com Louise Kaetchen Parizot, natural de Java e a quem se deve a sua passagem pela Madeira, segundo os contemporâneos de Max Roemer. De facto, as suas origens no sudoeste asiática, não eram bem vindas na Alemanha onde a crença da raça pura já circulava por todos os estados germânicos nos anos 20. Mas, Louise Parizot, do ponto de vista social se encontrava num patamar superior a Marx Roemer, na verdade era filha de um alemão (?) e os seus avós paternos eram oriundos de boas famílias parisienses, pelo lado materno, era neta do Conde Raden Ati Patti Sokro Nogaro, regedor de Soerabia. O seu pai, era um distinto monárquico, cuja origem parisiense só a perdeu quando se exilou na Alemanha, adquirindo a naturalidade germânica. Porém, tratava-se de um jovem aristocrata, com uma vida atribulada, mas feliz e cheia de aventura, terá sido um corredor de cavalos amador, percorreu dois continentes o europeu e a asiático, mas particularmente a China onde viveu durante vinte anos distinguindo-se como um exímio cavaleiro. Antes de se radicar na ilha de Java onde exerceu o cargo de director de empresa de incêndios e onde Louise Perizot foi apenas mais uma filha dos vinte cinco, do Conde Raden Nogaro, que foi esposo de treze mulheres. Louise perdeu a mãe com um ano e a cuidado de uma antiga governanta da família foi educada na Suiça. Conheceu Max Roemer quando este decorou as salas de recepção do Dresdner Bank e o Palácio Municipal de Berlim, encantado com a coloração e a feição exótica de Loiuse iniciou-se uma longa aventura matrimonial, antes porém surgiram os primeiros filhos, quando Max Roemer se alistou como soldado na infantaria alemã, durante a I Grande Guerra. Esteve nas campanhas da frente oriental e na cidade grega de Salónica, sendo promovido a 1ª cabo e decorado com a Cruz Hanseática, Cruz de ferro de Combatentes e ainda com a Insígnia dos Feridos, que pressupõe que foi provavelmente vítima em alguma circunstância do conflito de guerra, mas não existe nenhum documento que possa fazer essa prova. De regresso, à Pátria a sua esposa queixava-se dos invernos frios de Hamburgo e as condições financeiras da família estavam debilitadas pelo surto inflacionista gerado pela Grande Guerra. Um novo destino, esperava a família Roemer, na verdade Bente Olsen, um amigo, um ex- bailarino escandinavo falava-lhe da ilha da Madeira, do encantamento das suas flores, da simpatia da população e do sol …. E fazia-lhe frequentemente a sugestão de se radicar na ilha em várias das suas cartas dirigidas a Max. A ideia, de voltar a uma ilha não motivava a sua esposa, mas com os seus três filhos o casal desembarca no Funchal, no dia 27 de Maio de 1922, após a escala do vapor brasileiro “Curvello” que se dirigia para o Rio de Janeiro. A primeira residência dos Roemer situou-se em São Roque, com dezassete anos de vivência na capital funchalense muda-se para a Estrada Monumental antes de se fixar na freguesia de São Martinho, na Nazaré e nos últimos cinquentas de da sua vida, viveu no Funchal na Rua Major Reis Romes, nº8. Na capital madeirense curiosamente, não se integrou na comunidade estrangeira, convivendo de forma afectiva com a população local, cortou relações de amizade com o seu velho amigo Bengt Olsen a quem lhe prestou auxílio económico, não estabeleceu grandes relações com a comunidade alemã que residia na ilha, a amizade com o médico dentista Karl Friedrich Rohwedder que era nos anos trinta adepto do nacional-socialismo ou com o cônsul Wilhelml Hoffman, que chefe do Partido Nazi, local que com alguma dificuldade lhe anunciou que não podia pertencer ao partido, acabaram prematuramente. Segundo o testemunho da sua filha, essa notícia não lhe causou qualquer estado de alma, pois o facto de a sua mulher ser javanesa não lhe conferia, o tal desígnio de pertencer à raça superior. A única excepção na comunidade alemã, era outro nacional-socialista, de nome Uhse, técnico de um moinho de trigo, que lhe adquiria com regularidade alguns dos seus trabalhos. Entretanto a sua vida quotidiana, decorria com maior normalidade, entre umas braçadas a mar aberto, ginástica pela manhã e umas cavalgadas, no seu cavalo, humanizado chamado de “Pedro” preenchia-lhe os tempos que eram doados aos tempos artísticos. A sua obra, seria desde logo, reconhecida por António Nóbrega, pintor madeirense que com Max Roemer executou alguns painéis da Igreja de São Vicente. Todavia, a sua temática artística, ficou desde logo planificada com o que a cidade lhe proporcionava, as ruas, as travessas, os costumes e as paisagens, utilizando as técnicas mais variadas, desde o guache, o óleo ou a aguarela. Um pormenor, contudo marca a sua obra, evidenciando a sua identidade germânica, as caras das pessoas, que na maioria das vezes não traçam com clareza o rosto e os traços madeirenses, mas alemãs. Parte desta obra era vendida directamente nos hotéis a turistas nacionais e estrangeiros, em especial a ingleses. Outros trabalhos artísticos, desenvolveu na capital madeirense, nomeadamente desenhos para cartazes de publicidade para os cinemas locais, por vezes recebia alguns bilhetes por troca,  para si e para sua filha Valeska. Cartões de Boas Festas foram outro tipo de actividade artística que desenvolveu para a Casa Africana, em 1935 tais cartões apresentavam a seguinte legenda e foram objecto de publicidade no Diário de Notícias – nº18 336, de 11 de Dezembro de 1935 : “Get your especial X. mas Cards painted by Max Rmmer/at/ Africa House/ the rights places for your X. mas Shop – ping at moderade price”.  Max Roemer viria a falecer com 81 anos, após uma forte gripe que o debilitou durante 14 dias, tendo sido sepultado no antigo cemitério das Angústias do Funchal perdendo-se a sua sepultura para sempre. Dos seus filhos, Anita seguiu-lhe os seus passos, como pintora mas morrendo prematuramente aos 29 anos de tuberculose em 30 de Outubro de 1934 e Valesca, que também faleceu no Funchal a 25 de Agosto de 1988, que no fim da sua vida curiosamente conservava ainda o sotaque germânico, apesar de ter feito toda a sua vida na Madeira, reproduzia com alguma qualidade, os quadros do seu pai para os amigos. A senhora Roemer, também terminaria os seus dias no Funchal (4 de Abril de 1977). O seu filho, Rolf seria o único que voltaria a Hamburgo, onde foi intérprete, tradutor e correspondente do Diário de Noticias do Funchal, tendo em 26 de Abril de 1984, oferecido à Região Autónoma da Madeira, o património artístico, desenhos e pinturas, do qual foi receptor deste acto, o Secretário regional de Turismo, João Carlos Abreu. De resto, Max Roemer considerava a Madeira a sua segunda Pátria e os madeirenses souberam honrar a sua memória, com a primeira exposição realizada entre 1 e 11 de Janeiro de 1961, sob iniciativa do Dr.Wiliam Clode, Coronel Eduardo Ferreira, Engº Peter Clode e o pintor Louro de Almeida, nessa exposição levada a cabo na Academia de Música e Belas Artes da Madeira, foram expostas algumas obras realizadas antes de se radicar no Funchal como por exemplo, as que mostravam “As trincheiras da Primeira Guerra Mundial.” A obra de Max Roemer está conservada no Museu das Cruzes do Funchal e a sua memória foi novamente evocada em 1998, data correspondente o 110º aniversário tendo-se realizado uma exposição itinerante pelos Concelhos da Madeira e Porto Santo de dezoito aguarelas do pintor.                    

quarta-feira, dezembro 19, 2012

O Modernismo em Portugal ....






António Souza Cardoso, Tristezas.Cabeça - (1912), Óleo sobre tela.


Guillerme Santa Rita (1912), Cabeça, Óleo sobre tela.


Dórdio Gomes, Éguas de Manada, 1929, óleo sobre tela.

No princípio do século XX, as letras foram marcadas em Portugal por duas correntes literárias antagónicas; o Integralismo Lusitano, e a corrente do movimento Seara Nova. O primeiro, de que faziam parte nomes como António Sardinha, Hipólito Raposo e Rolão Preto, tinha raízes conservadoras, monárquicas e católicas; o segundo, cujos nomes mais conhecidos foram os de António Sérgio, Jaime Cortesão, Raul Proença ou Aquilino Ribeiro, situava-se na linha do nacionalismo e apresentava preocupações político-sociais e democráticas. Esta segunda corrente que deu lugar ao modernismo, reflectia as estéticas de vanguarda que no ínicio do século XX, manifestavam-se na Europa, mas não tinham uma linha programática dominante, por isso mesmo era possível uma associação à persistência de linguagem tradicionais frente a manifestações de linha cubista, futurista ou dadaísta. ( Casos das influencias do futurismo e do cubismo, nas obras de Santa Rita, Almada Negreiros e Amadeo Souza Cardoso. Outro aspecto que não podemos ignorar a influência de artistas portugueses que residiram no estrangeiro e de estrangeiros que desenvolveram parte da sua obra em Portugal (caso do Casal Delaunay que instalou-se em Vila do Conde onde desenvolveu parte da sua obra no nosso país).. O primeiro modernismo português (1911-1918), centrou-se em torno da Revista Orfheu, veículo de difusão do modernismo,  dele fazendo parte nomes como Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros e Fernando Pessoa. O modernismo português, surgia ainda no contexto da crise de consciência colectiva do pós-guerra, caracterizou-se pela ausência de qualquer ideologia, pela denúncia da decadência e da mediocridade da literatura, pela necessidade de romper com o saudosismo e o provincianismo que afastavam Portugal das grandes tendências literárias europeias. Almada Negreiros e Santa –Ritta Pintor, figuras de destaque do primeiro modernismo , empenharam-se de uma maneira particular na divulgação do Futurismo, que todavia não tiveram grande adesão do público. Fernando Pessoa foi o principal expoente do Orpheu e da poesia portuguesa. O sentido de mudança, a inquietação perante o destino do homem, a lucidez revelada na análise de um mundo que se desintegrava sem conseguir restituir-lhe o sentido, a capacidade de se desmembrar em várias personagens, cada qual correspondendo a um perfil bem definido, conferiram à sua poesia uma dimensão que lhe granjeou enorme prestígio no exterior. Neste contexto o primeiro modernismo, procurou divulgar as suas propostas artísticas e literárias, em exposições, conferências e em revistas ( como a citada revista Orpfeu e o Portugal Futurista), numa perspectiva renovadora relativamente à sociedade e à mentalidade do país, mas esta procura pela originalidade, que incitava à revolta e à provocação, acabou por não ter o efeito desejado pelos seus promotores. Dificuldades decorrentes da escassez de públicos culturais, resultantes querdo elevado analfabetismo quer do conservadorismo dos meios urbanos mais eruditos – agravadas pela situação política do país, foram algumas das razões.  Nas artes plásticas, o modernismo, surgido em força na segunda década do século XX, manifestou-se com pintores como Dórdio Gomes, Santa Rita-Pintor e especialmente Souza Cardoso, o qual procurou realizar a síntese de diversas tendências, na medida que ele próprio se confessava impressionista, cubista, futurista e abstraccionista. Uma segunda geração de modernistas, de que faziam parte José Régio, Miguel Torga e Adolfo Casais Monteiro, lançou a revista Presença (1927), em Coimbra. Continuando a proclamar-se como não doutrinários e sem filiação política, reagiram contra a literatura academizante e preferiram centrar-se na análise introspectiva, na confiscação ou na expressão da individualidade. Mas uma vez mais, os artistas continuaram a deparar-se com a rejeição pelos organismos oficiais, pelo que as exposições independentes que realizavam, de forma individual ou colectiva, a única forma de afirmação deste novo ciclo modernista que marcou os anos 20 e 30.             

domingo, dezembro 09, 2012

A afirmação da raia luso espanhola no Alentejo ....



A vila de Elvas situava-se no eixo da guerra guerreada ....


Badajoz entre a diplomacia e a guerra foi um palco de conflito na Idade Média

A raia do Alentejo na margem esquerda do Guadiana teatro da guerra medieval
(in João Gouveia Monteira;Os Castelos Portugueses, p.31) 


 A Nobreza senhorial da Extremadura desde sempre assegurou a soberania regional


No Norte Alentejana a cordialidade superou os conflitos nacionais e da região ...



            Na época medieval, a linha de fronteira entre Portugal e Castela no Alentejo, ficou definida sem dificuldade de maior, até ao século XII, mas torna-se um espaço de confrontação, uma vez que a impossibilidade de entendimento, na fixação definitiva da linha de demarcação da raia é uma realidade que atravessa quase dois séculos. A presença muçulmana neste vasto território foi determinante para as aspirações do nosso primeiro monarca, D. Afonso Henriques ainda antes do fim da sua carreira de armas irrompeu várias vezes pela Extremadura Espanhola, chegando a ocupar as cercanias de Cáceres o lendário General Sem Pavor, não deixou de assediar as terras além Guadiana numa tentativa de incorporar as terras castelhanas, no novo reino que estava ainda em pleno alargamento das fronteiras. Ao mesmo tempo, assistia-se no centro e sul peninsular, o avanço sem precedentes das várias forças vários reinos cristãos em formação, tal como a Nobreza da região Entre Douro e Minho, a Leonesa e a Aragonesa, marchava com as suas milícias num processo político que em parte não era mais que uma expansão feudal que era necessário clarificar. Com esta finalidade a diplomacia expressa-se quando se firma o tratado de Badajoz em 1267, que não é mais do que a confirmação de um outro assinado em 1252-1253 e cujas fontes não mencionam em que circunstâncias. Na verdade e apesar, das várias iniciativas luso-castelhanas, a linha que consagrada a realidade peninsular luso-castelhana em terras do sul, foi sem dúvida o Tratado de Alcanices (1297). Os protagonistas foram os monarcas, D. Dinis de Portugal e D. Fernando IV de Castela. Por este acordo Castela cedia a Portugal algumas populações extremenhas como Campo Maior, Ouguela e especialmente Olivença. Se consolidava assim a fronteira mais antiga da Europa. Mas, apesar de tudo, a clarividência da realidade raiana de uma fronteira definida não se deslumbra antes de finais do século XIV, momento em que a conjuntura de guerra, castiga violentamente as populações localizadas na raia de ambos os lados. Nos finais do século e com o tratado de Alcoutim de 1371, sem interesse prático, evidenciava um verdadeiro esgotamento da conjuntura de guerras de assédios e as tréguas, novas negociações surgem em 1393 e 1402, os cenários seleccionados para os encontros diplomáticos ocorreram nas vilas de Olivença e Villanueva de Barcarrota. Mais a paz duradoura só é firmada no Tratado de Ayllón em 1411  e confirmada em 1431 quando se promulga as conclusões do Tratado de Almeirim. Mais uma vez mais, as relações cordiais entre os dois estados foram afectadas com a crise política de 1440-1443 mas sem os efeitos dos conflitos (guerras Fernandinas)  que marcaram as terras do sul do Alentejo e da Extremadura. O Tratado de Elvas assinado em 1456 trouxe a acalmia as hostes da nobreza de armas de ambos os lados, mas a guerra civil castelhana que explodiu em 1475 abre as aspirações ao projecto Ibérico e D. Afonso V sonha ampliar o seu território, as forças portuguesas semeavam o pânico ao entrar em terras extremenhas, semeando o medo mas também a morte em ambos os lados da raia nacional uma realidade dominante na época medieval. Todavia, numa análise mais real e autêntica, com base nas fontes, com exclusão das guerras fernandinas, verdadeiros confrontos entre as hostes nacionais e senhoriais, de Portugal e Castela. A verdade é que a “guerra guerreada” foi a  de facto, o modo de conflito dominante, tratava-se de obter grandes quantidades de gados ou fazer um determinado número de prisioneiros, em troca do respectivo resgate. Não podemos deixar de referir nesta categoria de eventos, os cercos às vilas de Coria (1386); Alcântara (1400) ou os assaltos aos castelos de Cortijo e Lobon (1382) ou ainda a ocupação de Badajoz em 1396. Aliás, esta actividade militar intensa quase sempre gizada a partir de Elvas acabou por provocar o empobrecimento e o desaparecimento temporal de uma parte da população de Badajoz, mas em ambos os lados viveram-se tempos de alerta e de tensão e de descuido da organização económica, por abandono dos campos. Todavia, na raia alentejana uma realidade foi indiferente há guerra, tal como o movimento de pessoas, gados e mercadorias, que passavam aparentemente de um estado para outro, os Melo e os Gama, de Olivença, apesar da sua origem nobre, eram os maiores contrabandistas de cavalos e armas, nomeadamente o pai de Rui de Melo que viria a ser alcaide mor do castelo de Elvas, mas a norte da raia alentejana, a boa vizinhança alimentava as relações entre Marvão e Valência de Alcântara e mais o sul o despovoamento contribuía para um clima bélico pontual, de tal forma que as guerras de fronteira na linha da raia alentejana era compreendida de forma diferenciada em função de uma população que compreendia os conflitos bélicos de forma diferença.