Ao longo da
História da Cidade de Elvas e da Vila de Campo Maior, grandes nomes
destacaram-se na reconstrução da memória dos seus antepassados, mas dois nomes
são fundamentais e determinantes quando se fala de uma História, cujo objecto
de reconstrução se centra no documento. Referimo-nos a Vitorino de Almada e
João Francisco Dubraz, o primeiro natural de Elvas, onde nasceu em 21-10-1845
sem dúvida o mais importante historiador desta cidade, o segundo nascido em
Campo Maior destacou-se não só na vida cultural da sua vila como foi um dos
colaboradores mais importantes da imprensa periódica de Elvas onde se salientou
como cronista político e historiador, de facto foi no nº1828 da Voz do
Alentejo, que Dubraz escreveu o primeiro artigo sobre história que se
intitulava “História de Campo Maior. Em comum, estes dois vultos para além da
História, possuíam uma verdadeira paixão pelo jornalismo chegando Vitorino de
Almada, a correspondente do Diário Ilustrado na década de 70, enquanto que João
Dubraz iniciou mesmo a sua “carreira jornalística” no periódico lisboeta
Revolução de Setembro. Todavia, a forma de participação na imprensa nacional e
depois local, foi fortemente marcada pela sua formação profissional, que os
distingue notavelmente na forma como utilizaram as folhas periódicas onde
colaboraram, Vitorino de Almada, capitão do exército e oriundo de uma família
ligada a carreira de armadas, jamais utilizou o seu talento para a reflexão da
temática política numa época em que o exército português caminhava no sentido
da unidade nacional, depois das várias divisões que as guerras liberais
determinaram e que ainda se faziam sentir perto de meados do século XIX. João
Dubraz, pelo contrário era um verdadeiro activista político, participou na
revolta da Maria da Fonte, defensor de um liberalismo radical e da república
como regime político, de tal forma que os escritos deste professor foram sempre
motivo de polémica na cidade de Elvas, quando essas ideias eram motivo de
reflexão. No plano da construção memória, a recolha de fontes e uma forma muito
particular de registar os agentes da história, são sem dúvida os elementos de
maior destaque nas suas obras. No caso de J.Dubraz destaca-se «Recordações dos
Últimos Quarenta Anos (1868)», que é
sem dúvida, a memória descritiva mais
importante da Vila de Campo Maior, referente aos séculos XVIII e XIX e em
particular da conjuntura de guerra, desde as Invasões francesas até às guerras
peninsulares. De realçar também que uma parte significativa desta memória foi
publicada nos jornais de Elvas, Voz do Alentejo e Diário de Elvas. O mesmo
caminho seguiu Vitorino de Almada, uma vez que uma parte considerável da sua
obra foi também antes publicada em alguns artigos do Elvense, Gil Fernandes e
Correio Elvense. Porém de referência é sem dúvida o Dicionário de História e
Geografia do Concelho de Elvas e Extintos de Barbacena, vila Fernando Vila
Boim, uma obra ímpar que reúne uma vasta informação: Política, Institucional,
Económica, Social e Cultural, uma parte dela recolhida por António Tomás Pires
ou facilitada pelo Dr. Francisco de Paula Santa Clara, entre outras
personalidades que nos finais do século XIX permitiram o acesso a uma
documentação institucional que estava à sua guarda. Eis, algumas notas, sobre
dois vultos e duas obras de referência que permanecem ignoradas pela
historiografia portuguesas, uma referente a vida de uma cidade e que se estende
pelo Alentejo, outra sobre uma memória de uma vila que se desenvolve num
cenário específico da História de Portugal.